Título: Alemanha descarta mais etanol na gasolina
Autor: Gois, Chico de; Damé, Luiza
Fonte: O Globo, 15/05/2008, Economia, p. 25

Angela Merkel decepciona Lula ao dizer que não antecipará meta de adição de 10% do álcool ao combustível

BRASÍLIA e SÃO PAULO. A primeira-ministra da Alemanha, Angela Merkel, disse ontem que seu país não vai alterar antes dos demais países europeus o percentual de etanol adicionado à gasolina, como gostaria o governo brasileiro. Hoje, a Alemanha mistura 5% de álcool à gasolina. Um projeto previa 10% a partir do ano que vem, mas foi abandonado pelo governo alemão, que, como o resto da União Européia (UE), só elevará a mistura a partir de 2020.

- A Alemanha não vai mudar de posição, dentro da estratégia européia de biocombustível para 2020 - disse Angela.

A chanceler esteve ontem com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em sua primeira visita oficial ao país. Depois ela irá a Lima, para a V Cúpula de Chefes de Estado de América Latina, Caribe e União Européia (ALC-UE), amanhã e sábado.

Em seu discurso, Lula fez uma defesa enfática dos biocombustíveis e negou que estes sejam responsáveis pela alta dos alimentos. Mas Angela manteve sua posição. Ela disse que há uma legislação em vigor e que veículos antigos não podem funcionar com o novo combustível. A chanceler alemã evitou entrar na polêmica envolvendo biocombustíveis e alimentos, mas sublinhou a importância da preservação ambiental:

- O etanol é necessário, mas a sustentabilidade é decisiva nesse contexto (dos biocombustíveis), e o Brasil está na vanguarda.

Ela disse que a Alemanha está disposta a ajudar na preservação das florestas brasileiras. Entre os memorandos assinados, está uma cooperação que prevê a liberação de 40 milhões para financiamento de três projetos ambientais na Amazônia.

Semana passada, Lula criticou a Alemanha ao lembrar que o país europeu produz etanol da beterraba. Ontem, foi mais polido. Culpando o petróleo, ele classificou de "truncado" o debate sobre etanol e alimentos.

- Por que ninguém discute o custo do petróleo no preço dos alimentos? Parece que é um tabu. Todo mundo assina o protocolo de Kyoto e faz ouvidos de mercador. Ninguém quer deixar de utilizar gasolina e óleo diesel - disse Lula, aproveitando para brincar com as descobertas recentes de reservas de petróleo. - Se vierem aqui daqui a dez anos, vão chamar o presidente do Brasil de xeque.

Depois, Angela foi a São Paulo, onde se encontrou com o governador José Serra e participou de jantar da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha e da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Ela disse que Lula lhe garantiu estar em estudo a segunda geração de biocombustível, adaptado ao mercado europeu, o que garantiria a importação pela UE:

- Sem conversão, muitos automóveis fabricados na Alemanha não podem funcionar com o que é produzido no Brasil.

A chanceler rebateu a tese de que a alta do preço dos alimentos é provocada, em parte, pela cana-de-açúcar:

- Eu sei que a cana-de-açúcar é produzida em São Paulo, não na Amazônia. Devemos ter clareza e transparência nessa discussão.

Em audiência no Senado, o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, endossou a defesa de Lula ao etanol. Ele chamou EUA e UE de vilões da crise de alimentos. Quanto à falta de álcool em postos de seis estados, disse desconhecer o fato.

COLABORARAM Adauri Antunes Barbosa e Geralda Doca