Título: BNDES levará política industrial à AL
Autor: Oliveira, Eliane; Rosa, Bruno
Fonte: O Globo, 15/05/2008, Economia, p. 28

Banco ampliará em 30% sua carteira para projetos de infra-estrutura na região

BRASÍLIA, RIO e SÃO PAULO. Ponto forte da política externa do governo Lula, a integração Sul-Sul estará presente na nova Política de Desenvolvimento Produtivo com o braço bilionário do BNDES na América Latina, no Caribe e na África. As nações sul-americanas serão contempladas primeiro, com a ampliação em 30%, até 2010, da atual carteira do banco em projetos de infra-estrutura realizados por empresas brasileiras. As áreas incluem transporte, energia e telecomunicações.

O BNDES tem hoje uma carteira de US$10 bilhões para projetos de infra-estrutura na América do Sul. Destes, US$2,3 bilhões já foram contratados. Na África, segundo o banco, os investimentos estão concentrados em Angola: são 29 operações, num total de US$750 milhões.

Segundo o secretário de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Welber Barral, a idéia é aumentar comércio e investimentos nessas regiões, para promover a expansão da renda, o desenvolvimento econômico e a inclusão social. Só com a África, segundo o órgão, o fluxo comercial (soma das exportações com as importações) cresceu 298% entre 2002 e 2007, para US$19,9 bilhões.

Na América Latina, algumas iniciativas já foram tomadas, como a destinação de US$70 milhões por ano para o Fundo de Convergência Estrutural do Mercosul, que visa a reduzir as assimetrias econômicas no bloco.

Na opinião de Antônio Correia Lacerda, professor do Departamento de Economia da PUC-SP, o BNDES é fundamental no processo de internacionalização das empresas brasileiras, ao lhes garantir acesso a outros mercados com linhas de financiamento mais baratas. Segundo ele, as transnacionais respondem hoje por 66% do comércio internacional.

- Com a globalização, não existem empresas fortes regionalmente. Elas têm de se expandir para fora de seu país. O Brasil está participando do jogo da globalização, agora como comprador - afirma Lacerda. - Além do aspecto econômico, há a importância geopolítica do país no continente.

Mas nos planos do governo brasileiro não consta o Banco do Sul, idéia defendida pela Venezuela. Ainda há divergências sobre a finalidade da instituição e de onde sairão os recursos que comporão sua carteira.

O presidente do BNDES, Luciano Coutinho, acenou ontem com a possibilidade de o banco voltar a fazer captações no exterior para atender à demanda de financiamentos nos próximos anos. Mas ressaltou que "espera um momento mais favorável" para concretizar a operação:

- Não temos pressa, não precisamos (da captação) a qualquer custo.