Título: Extradição transforma Uribe em alvo de críticas
Autor:
Fonte: O Globo, 15/05/2008, O Mundo, p. 32
Vítimas, ONGs e autoridades temem que medida dificulte punição de crimes de paramilitares
BOGOTÁ. A decisão de extraditar 14 ex-chefes paramilitares para os Estados Unidos deflagrou uma forte onda de críticas ao governo colombiano, por organizações de direitos humanos e famílias das vítimas, que temem que a medida impeça o esclarecimento de crimes, resulte em impunidade e dificulte a localização dos corpos de desaparecidos. As críticas vieram inclusive de autoridades colombianas, como o procurador-geral, Edgardo Maya, para quem a extradição em massa jogou ¿no limbo¿ os direitos das vítimas.
Segundo o titular do Ministério Público, a medida afastou ¿a informação valiosa que há na memória dessas pessoas extraditadas¿, que poderiam contribuir para o esclarecimento da verdade. Acredita-se que haja centenas de fossas coletivas com corpos de vítimas de paramilitares no país.
Forças de segurança em alerta contra represálias
Também a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) criticou a decisão: ¿A extradição impedirá a investigação e o julgamento de graves crimes¿ e ¿afeta a obrigação do Estado de garantir o direito das vítimas à verdade e à reparação¿, disse em nota. Para a organização, a medida interfere ainda ¿nos esforços para determinar vínculos entre agentes do Estado e paramilitares¿ ¿ num momento em que 63 parlamentares colombianos são investigados, e mais de 30 estão presos. A entrega foi ordenada pelo presidente Álvaro Uribe, que afirmou que os presos violaram o acordo de desmobilização reincidindo em crimes, não colaborando com a Justiça ou não cumprindo a reparação de vítimas.
Segundo a Comissão Colombiana de Juristas, a medida cria dificuldades jurídicas para a reparação das vítimas. A Comissão Nacional de Reparação e Reconciliação afirma que pesam 130 mil denúncias de crimes atrozes contra os paramilitares.
Os 14 extraditados serão julgados nos EUA por narcotráfico. Um acordo entre os dois governos garantirá que não sejam condenados à prisão perpétua. Ontem, funcionários do governo americano disseram que vão cooperar com os promotores colombianos. O presidente Uribe, por sua vez, afirmou que a apreensão de bens dos réus será destinada a um fundo para as vítimas. Nos últimos dias, o governo levantou 140 bens em mãos de familiares ou testas de ferro dos extraditados.
Iván Cepeda, do Movimento das Vítimas dos Paramilitares, informou que serão contratados advogados nos Estados Unidos, ao mesmo tempo em que manterão abertos os processos na Colômbia. Ele classificou a medida, só anunciada quando os presos já estavam a caminho dos EUA, como ¿intempestiva e pouco transparente¿. Para ele, pode haver acordos por trás disso:
¿ Começa-se a se falar de um pacto no qual se ofereceram uma série de bens em troca não sabemos de que tipo de concessões a estes chefes paramilitares. Tememos que isso acabe sacrificando a verdade.
As forças de segurança estão em alerta máximo devido ao temor de represália de grupos armados. Segundo a polícia, Rodrigo Tovar Pupo, o Jorge 40, gritou que estavam violando o acordo de paz, ao ser embarcado para os EUA. Mais de 30 mil paramilitares entregaram as armas em troca de penas reduzidas.