Título: Índios desbloqueiam estradas dentro da Raposa
Autor: Éboli, Evandro
Fonte: O Globo, 13/05/2008, O País, p. 11

PF convence indígenas a encerrar protesto, iniciado após grupo ter sido atacado a tiros por funcionários de Quartiero

BOA VISTA (RR). A Polícia Federal convenceu os índios macuxi a desbloquear dois trechos da estrada que liga as fazendas dos arrozeiros, dentro da reserva Raposa Serra do Sol, à capital do estado, Boa Vista, onde estão as indústrias de beneficiamento e comercialização de arroz. Desde a semana passada, após os disparos feitos por funcionários do fazendeiro Paulo César Quartiero contra um grupo de dez indígenas, a circulação dos caminhões dos produtores na RR-319, estrada de terra conhecida em Roraima como Transarrozeira, está proibida.

O acordo com os indígenas, que defendem a demarcação contínua das terras da reserva, foi selado na noite de domingo, e ontem as estradas já estavam desbloqueadas. O superintendente da PF, José Maria Fonseca, argumentou com os índios ligados ao Conselho Indígena de Roraima (CIR) que o bloqueio só os prejudicava.

- Dessa maneira, eles repetiram uma tática equivocada do Quartiero, que fechou pontes e destruiu estradas, num protesto que só prejudica o processo - disse Fonseca.

Os índios tinham construído quebra-molas de areia e erguido obstáculos de madeira para impedir o trânsito dos caminhões. Os trechos fechados são usados por carretas de arroz de Quartiero e de vários outros produtores. O fazendeiro Ivo Barilli chegou a ingressar com ação na Justiça Federal para obrigar a desobstrução da estrada.

- Nosso estado virou terra de ninguém. A PF, que deveria nos proteger, permite que essas coisas aconteçam. Por que os agentes não impediram o bloqueio das estradas? A resposta é simples: porque eles têm lado nessa história - disse Barilli.

Responsável pela condução dos negócios da família Quartiero, Ericina Quartiero, mulher do fazendeiro, afirmou que estava com dificuldades de levar sementes para serem plantadas nas duas fazendas no interior da reserva. Desde o final de semana, os índios não permitiam que insumos agrícolas e máquinas fossem levadas para as propriedades.

- Cada um luta com suas armas. Quartiero quase parou o estado, atacou um posto da Polícia Federal com bomba, destruiu pontes, atirou nos nossos irmãos e ninguém fez nada. Perto do que ele fez, nosso protesto foi pacífico - disse Júlio Macuxi, um dos líderes do Conselho Indígena de Roraima (CIR).