Título: EUA perdem e Brasil se fortalece
Autor:
Fonte: Correio Braziliense, 12/05/2009, Economia, p. 15

Os Estados Unidos vão perder uma década de crescimento enquanto o Brasil se beneficiará com a crise econômica mundial, segundo dois vencedores do Prêmio Nobel de Economia. O professor Joseph Stiglitz, Prêmio Nobel de Economia e um dos palestrantes do ExameFórum, disse em São Paulo que, mesmo quando esta fase mais difícil da crise for superada, a recuperação será muito lenta. Edward Prescott, prêmio Nobel de Economia em 2004, também presente ao evento, concorda. ¿Não estamos caminhando para outra depressão, mas os Estados Unidos perderão uma década de crescimento, como aconteceu com o Japão após a crise em 1992¿, afirma.

Um dos motivos para o pessimismo de Stiglitz é a alta taxa de desemprego nos Estados Unidos. Segundo ele, o cenário é ruim e a melhora é muito lenta. ¿O futuro é sombrio. A crise agora é diferente das outras no período pós-guerras porque mostra o fracasso do nosso sistema financeiro¿, explica.

Outro fator para pessimismo é a falta de transparência no plano de estímulo à economia. ¿Ele é falho porque não recupera a confiança das pessoas¿. Stiglitz acredita que o país precisa de uma segunda ¿rodada de estímulo¿ com foco na estabilidade financeira.

Posição Stiglitz avalia que o Brasil tem boas políticas e mesmo assim foi afetado. Ele acredita que o país tem espaço para reduzir juro, o que favorece uma recuperação para a economia. ¿O Brasil está numa boa posição. Eu costumava achar que juro alto era uma coisa ruim, mas vejam só. Nos EUA, a taxa é quase zero e não há mais espaço. No Brasil tem espaço para diminuir os juros¿, explica.

Para Prescott o Brasil vai se beneficiar com a crise, devendo passar a compor o grupo de países industrias ricos dentro de duas décadas, em 2030. Cinco anos antes a China terá entrado para esse ¿clube¿. ¿O Brasil vai se dar bem. Aparentemente, a essência e os fundamentos estão aqui. Pode ter recuperação rápida e alcançar os líderes industriais rapidamente. Mas para isso precisa ter boas políticas¿, disse. Um exemplo de prática positiva, na opinião dele, seria uma maior integração do país com o exterior.

¿O Brasil está se tornando integrado, mas precisa fazer mais conexões com o exterior, exportar bens de alta tecnologia, para que empresas tenham a confiança de trazer tecnologia para cá¿, acrescentou. Segundo Prescott, a economia mundial conta 32 países industriais ricos atualmente, ante 14 em 1950. Ele não acredita que o mundo entre em nova depressão, com a registrada na década de 1930.

No mesmo seminário, o ex-ministro da Fazenda, Antonio Delfim Netto, afirmou que o desempenho da economia no quarto trimestre deve possibilitar um crescimento de 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2009. Segundo ele, os dois primeiros trimestres deste ano devem apresentar resultados desfavoráveis em relação ao ano anterior, o que provocaria a necessidade de o país apresentar um incremento mais forte do nível de atividade no segundo semestre.