Título: Chávez ameaça rever relação com Colômbia
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Fonte: O Globo, 16/05/2008, O Mundo, p. 34

LIGAÇÕES PERIGOSAS

Presidente classifica apresentação de informe como "show de palhaços". Lula chama as Farc de grupo terrorista

BOGOTÁ. A divulgação do relatório da Interpol sobre os computadores do guerrilheiro Raúl Reyes ameaça aprofundar a crise entre Colômbia e Venezuela. Após a Interpol afirmar que não foram adulterados arquivos que comprovariam as relações de Venezuela e Equador com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), o presidente venezuelano, Hugo Chávez, prometeu rever as relações com Bogotá, e disse que poderia substituir a Colômbia como parceira comercial pelo Brasil.

- Somos obrigados a colocar de novo as relações com a Colômbia numa profunda revisão, no (campo) político, diplomático, econômico - disse o presidente, em Caracas. - Não são imprescindíveis as importações colombianas. Brasil é um gigante e pode nos vender dez vezes o que nos vende a Colômbia.

Ao ser perguntado por jornalistas sobre o relatório, Chávez disse que respondia apenas sobre temas sérios e que "outra coisa são os shows", e acusou o secretário-geral da Interpol, Ronald Noble, de defender a violação do território equatoriano e o assassinato dos guerrilheiros.

- Não estranho que a primeira pergunta seja sobre um show de palhaços, que não merece um comentário sério. Uma coisa ridícula que não vale a pena perder tempo com ela - disse Chávez, que chamou ainda Noble de "vagabundo internacional".

Segundo Chávez, o acampamento das Farc atacado pela Colômbia no Equador havia sido montado para receber os reféns libertados pela guerrilha.

- A razão fundamental deste acampamento não era agredir a Colômbia. Seu objetivo era o processo de libertação de outro grupo (de reféns das Farc) que iria para o Equador - afirmou.

Para Equador, relatório não é válido juridicamente

No centro de Caracas, simpatizantes de Chávez fizeram um computador gigante, com a imagem do presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, e atearam fogo.

Em Lima, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva chamou as Farc de grupo terrorista ao comentar a crise - uma atitude não adotada pelo governo:

- Você pode ter tensão na América do Sul, mas a verdade é que tem democracia aqui como jamais tivemos em nenhum outro momento. Hoje, com exceção das Farc, não tem nenhum grupo de guerrilha, terrorismo e luta armada. Você tem países construindo a democracia.

A ministra das Relações Exteriores do Equador, María Isabel Salvador, também levantou dúvidas sobre o relatório.

- Para nós, não tem validade jurídica.

Para a chanceler, não foi garantida a custódia dos computadores, que teriam sido encontrados no acampamento das Farc. Com isso, teriam perdido a validade jurídica e moral.