Título: Benefício compartilhado
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Fonte: O Globo, 17/05/2008, Economia, p. 35
Governo quer fazer duas, e não uma refinaria no Nordeste
BRASÍLIA. A pedido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a Petrobras avalia a viabilidade econômica da construção de duas refinarias no Nordeste, capazes de processar 600 mil barris por dia, um terço da produção atual do país. O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, adiantou que a maior das duas - com capacidade de refino de 400 mil barris por dia - será instalada em São Luís, seu reduto político. A outra - para refino de 200 mil barris diários - será decidida depois, mas já está certo que será também em um estado do Nordeste. As duas serão voltadas para a produção de gasolina e derivados tipo exportação.
De olho no aumento da produção, com os campos abaixo da camada de sal, como Tupi e Júpiter, a estatal planejava construir apenas uma grande refinaria, a maior da América Latina, por R$15 bilhões. Mas, segundo Lobão, diante do impacto econômico e político de uma obra desse porte, o Palácio do Planalto pediu estudos para dividi-la:
- Como o presidente sabe que investimentos grandes como esse vão ajudar as economias estaduais, ele quer ver se é possível fazer duas refinarias, não apenas uma.
Até o fim do mês, a Petrobras apresentará os estudos técnicos e econômicos. Se o estudo entender que as refinarias custarão bem mais que os R$15 bilhões, deverá ser feita apenas uma, que ficará pronta entre 2013 e 2015. Neste caso, disse Lobão, o local será São Luís.
- Precisamos ficar o mais perto possível dos mercados compradores. Seria falta de competência e de espírito público deixar de construir uma refinaria num local tão estratégico só porque o ministro é do mesmo estado - disse Lobão, para quem a decisão seria a mesma se o ministro fosse paulista ou carioca.
A obra, que seria bancada pela Petrobras, poderá contar com parcerias privadas. O objetivo é processar gasolina com baixo teor sulfúrico (menos poluente) para vender aos EUA e à Europa. Exportar o combustível já refinado conforme os padrões internacionais é mais rentável que vendê-lo bruto. Segundo Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Infra-estrutura, o argumento geográfico é correto:
- É só pegar o mapa e ver que o Maranhão está mais próximo dos mercados compradores, o que reduz o valor do frete e melhora a competitividade. Além disso, o porto de Itaqui, perto de São Luís, tem um dos maiores calados (profundidade) do mundo, permitindo a presença de grandes petroleiros.
Mas Pires adverte que uma refinaria desse porte só faz sentido se a produção no pré-sal for viabilizada, e que a distância do Maranhão até o litoral de Rio e São Paulo, onde estão os campos gigantes, pode ser um complicador. Lobão admite que o governo adota critérios políticos para decidir locais de refinarias:
- O presidente da República é um pai de muitos filhos e tem que tratá-los como iguais. O Rio já está contemplado, São Paulo nem se fala. Está na hora do Nordeste.