Título: Preço do barril de petróleo passa dos US$127
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Fonte: O Globo, 17/05/2008, Economia, p. 35

Cotação é pressionada por especulações. Bush pede mais produção à Arábia Saudita, que estuda alta modesta

NOVA YORK e RIAD. Com o mercado especulando sobre um possível aumento da demanda por combustíveis na China, após o terremoto que assolou o país na segunda-feira, o preço do petróleo voltou a bater recorde ontem, ultrapassando pela primeira vez na História a casa dos US$127 por barril, na Bolsa Mercantil de Nova York. Contribuíram ainda para pressionar a cotação as previsões sombrias de aumento de preços feitas pelo banco de investimentos Goldman Sachs e a relutância da Arábia Saudita em elevar sua produção.

No fim da sessão, a cotação do barril do tipo leve americano avançou 1,7%, para US$126,29. Durante o dia, chegou a US$127,82. Já em Londres, o preço do barril do tipo Brent subiu 1,9%, para US$124,99.

O custo do petróleo já subiu seis vezes desde 2002 e dobrou em relação ao ano passado. Esse movimento se deve, segundo operadores, à crescente demanda da China e de outros emergentes, que reduz drasticamente a distância em relação à capacidade de produção. Com uma sucessão de recordes nos últimos meses, a cotação do petróleo e de derivados se tornou mais uma ameaça à economia global, em especial à dos EUA, já afetados pela crise das hipotecas.

Goldman Sachs prevê barril a US$141 no 2º semestre

O Goldman Sachs, o banco de investimentos mais ativo no mercado de energia, previu ontem que os preços do petróleo vão alcançar uma média de US$141 por barril no segundo semestre, devido à escassez dos estoques. No início do mês, a instituição já projetara o barril a US$200 em dois anos.

- Acho que a maior história hoje (ontem) foi a previsão do Goldman Sachs para o segundo semestre - avaliou David Katz, da consultoria Matrix Asset Advisors.

Ontem, em visita à Arábia Saudita, o presidente dos EUA, George W. Bush, fez um apelo ao rei Abdullah bin Abdulaziz por um aumento da produção de petróleo. O líder saudita inicialmente recusou o pedido, afirmando que no começo do mês a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), da qual o país é membro, já elevara a produção em 3,3%, o equivalente a 300 mil barris de petróleo por dia. Mais tarde, porém, Abdullah admitiu, sem especificar valores, considerar um modesto aumento, apesar da não achar excessiva a demanda mundial.

Foi a segunda viagem de Bush à Arábia Saudita este ano. Desde a última visita, em janeiro, o preço do barril de petróleo subiu cerca de US$30, para perto de US$128, elevando os temores de recessão econômica na maior economia do mundo em pleno ano eleitoral.

O ministro do Petróleo da Arábia Saudita, Ali al-Naimi, disse a autoridades da comitiva americana que um eventual aumento da produção de petróleo não fará caírem os preços da gasolina nos EUA, já que a alta da cotação se deve sobretudo à debilidade do dólar e à especulação com respeito a tensões geopolíticas em países produtores, como a Nigéria.

- Consumidores, onde estão vocês? Quero vender petróleo, mas onde estão os clientes? Não posso vender apenas para armazenar no mar - ironizou o ministro saudita de Relações Exteriores, príncipe Saud al-Faisal, reforçando o argumento da Opep de que os aumentos dos preços decorrem de movimentos especulativos.

- O presidente disse que temos que fazer o que for possível - disse o assessor de segurança da Casa Branca, Stephen Hadley. - A mensagem que veio dos sauditas foi: nós ouvimos vocês, sabemos que os mercados estão sob pressão e faremos o que for possível.

Ontem, o Departamento de Energia dos EUA suspendeu até dezembro o envio de petróleo para as reservas estratégicas do país, cedendo a pressões do Congresso. Esta semana, o Senado e a Câmara dos Deputados aprovaram projeto pelo qual o envio deveria ser interrompido e retomado só quando o preço do barril cair para US$75. O projeto depende da sanção de Bush.