Título: Emergentes culpam ricos por crise de alimento
Autor: Oswald , Vivian
Fonte: O Globo, 17/05/2008, Economia, p. 40

Em reunião do Bric, Brasil e Índia atribuem inflação a subsídios à produção de grãos. China critica especuladores

EKATERIMBURG, Rússia. Brasil e Índia reiteraram ontem, em reunião na cidade russa de Ekaterimburg, que os subsídios agrícolas de países ricos distorcem o mercado e reduzem a produção mundial de alimentos. Estes seriam, na opinião de representantes dos dois países, um dos principais responsáveis pela alta global de preços dos gêneros alimentícios, e não a produção de biocombustíveis ou a forte demanda das nações em desenvolvimento, como argumentam os países ricos.

O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, afirmou que a política de subsídios dos americanos e europeus prejudica a produção das nações mais pobres e força o aumento dos preços, o que também tem impacto sobre a população de menor renda. O chanceler da Índia, Pranab Mukherjee, enfatizou que os subsídios afetam até mesmo produtores eficientes. E destacou que tradicionais produtores e exportadores de arroz - em regiões afetadas por ciclones em Bangladesh e Mianmar - hoje compram de fora e não têm mais como se manter, o que agrava a sua situação.

Rússia e China apóiam Brasil no Conselho de Segurança

Os dois ministros participaram, ao lado de representantes de Rússia e China, do primeiro encontro formal do grupo Bric. A sigla foi criada pelo banco de investimentos Goldman Sachs para se referir a Brasil, Rússia, Índia e China e apontá-las como as potências do futuro.

O ministro dos Negócios Estrangeiros da China, Yang Jiechi, acusou as atividades especulativas e os preços recordes do petróleo de serem responsáveis pela queda da produção de alimentos no mundo. Tanto Índia quanto China têm sido apontadas pelos europeus como culpadas pelo forte aumento da demanda por grãos.

- A China dispõe de 9% das terras aráveis do mundo e produz o equivalente a 22% dos alimentos consumidos no planeta. Essa é a contribuição importante que fazemos para o mundo em termos de segurança alimentar - afirmou Jiechi.

Brasil vai sediar novo encontro em novembro

Ao fim do encontro, os três ministros e o colega russo Sergei Lavrov divulgaram nota em que foi dada ênfase à importância do uso dos biocombustíveis, como queria o Brasil. Outra vitória brasileira se deu no âmbito político. Pela primeira vez, Rússia e China apoiaram claramente a candidatura do país a uma vaga no Conselho de Segurança da ONU, apesar de o documento final reconhecer também a candidatura da Índia. Rússia e China são membros permanentes do conselho.

Numa demonstração de que os países do Bric estão dispostos a dar novo peso às suas posições em questões globais, três encontros foram agendados. O primeiro será em setembro, paralelo à Assembléia Geral da ONU, em Nova York. O segundo será em novembro, no Brasil, entre ministros da Fazenda dos quatro países. O terceiro será na Índia, em 2009.

- O novo formato dos encontros dos Bric não é artificial. É real. Os países apóiam a reforma da arquitetura econômica mundial e a garantia das regras internacionais, e discutem a situação global - disse Lavrov.