Título: Uribe deve ir a tribunais internacionais
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Fonte: O Globo, 17/05/2008, O Mundo, p. 42

Para o professor Sebastián de Castro, que ensina ciência política na Pontifícia Universidad Javeriana, de Bogotá, o governo do presidente Álvaro Uribe vai usar o relatório da Interpol em cortes internacionais de Justiça contra o presidente venezuelano Hugo Chávez e, talvez, contra presidente do Equador, Rafael Correa.

Leonardo Valente

O que o governo de Álvaro Uribe deve fazer agora que a Interpol disse que não há provas de que dos documentos dos computadores de Raúl Reyes foram fraudados?

SEBASTIÁN DE CASTRO: Uribe deve ir a tribunais internacionais. Acredito que agora o governo colombiano se sente com respaldo para recorrer contra o presidente Hugo Chávez e, talvez, contra o presidente do Equador, Rafael Correa, acusados por Uribe de estarem nesses documentos como envolvidos, em algum grau, com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia. Mas outras informações, que ainda não conhecemos, devem ser divulgadas antes disso.

O senhor acredita na veracidade das informações divulgadas?

CASTRO: A Interpol já deu seu parecer, dizendo que não há provas de alteração dos documentos. Acredito que as informações possam ser verdadeiras. Sempre soubemos das relações mais estreitas que os guerrilheiros das Farc têm como o presidente Chávez e não me parece uma novidade que ele mantenha um contato mais estreito com o grupo. Mas é fato que uma acusação formal de Uribe contra Chávez em cortes internacionais poderá complicar a já tensa relação entre os dois países. Colômbia e Venezuela são dois grandes parceiros comerciais e têm muitos interesses em comum. No entanto, se essa crise durar, veremos um aumento grave da tensão e medidas mais duras de ambos os lados. Chávez não está disposto a reconhecer seu envolvimento com as Farc e também deve partir para acusações e ameaças.

O senhor acredita que a tensão entre Colômbia e Venezuela pode se transformar em um conflito armado?

CASTRO: Acho essa hipótese pouco provável. Tanto Chávez quanto Uribe sabem que um conflito entre os dois países teria conseqüências terríveis para a economia e para a estabilidade dos dois países. Uribe tem o apoio interno suficiente para conquistar seus objetivos políticos, não precisa de mais um grande problema externo. Já Chávez, teria sérios problemas de abastecimento, o que tornaria sua situação interna mais vulnerável. As relações entre os dois países pode piorar, e muito, com essa crise, mas seria exagero pensar em um conflito bélico.