Título: Relatório azeda clima em reunião de Lima
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Fonte: O Globo, 17/05/2008, O Mundo, p. 42

Chávez e Correa rejeitam conclusões da Interpol sobre autenticidade de arquivos de líder das Farc e atacam Uribe

LIMA e BOGOTÁ. O relatório da Interpol que atesta que os arquivos encontrados nos computadores de Raúl Reyes, um dos líderes das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), não foram adulterados deixou mais tenso ontem o clima da V Cúpula dos Chefes de Estados da América Latina, Caribe e União Européia, que acontece em Lima, no Peru. Os presidentes da Venezuela, Hugo Chávez, e do Equador, Rafael Correa, aproveitaram a ocasião para atacar o presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, que afirma que os documentos apontam para laços existentes entre os dois presidentes e a guerrilha.

Irritado com o respaldo da Interpol a Uribe, Chávez afirmou que não tinha condições de falar com o presidente colombiano, a quem chamou de "arauto da desunião".

- Não há condições para conversar com Uribe. Para falar com ele teria de descer a um pântano. O único problema que temos atualmente na América do Sul é Uribe - disse.

Antes da Cúpula, Correa também atacou Uribe e afirmou que as acusações contra ele fazem parte de uma campanha de difamação:

- O governo colombiano promove sistematicamente a difamação de outros governos sul-americanos.

Peru tentou diminuir clima de confrontação

Do outro lado, o presidente do governo espanhol, José Luis Rodríguez Zapatero, apoiou o presidente Uribe e afirmou que a crise entre Colômbia, Equador e Venezuela tem as Farc como o principal responsável.

- Nenhum dos países democráticos deveria se deixar levar por interpretações equivocadas do que realmente acontece. Não podemos esquecer que as Farc são um grupo terrorista e que Álvaro Uribe tem uma missão muito difícil - afirmou.

O clima de tensão fez com a diplomacia peruana tentasse evitar mais trocas de acusações que resultassem no fracasso do encontro. O presidente Alan Garcia chegou a pedir que os participantes se concentrassem nas questões a serem tratadas.

- Nosso apelo, na qualidade de anfitriões momentâneos, é para que nossa discussão de hoje concentre-se nos pontos que nos unem, os quais são vários e com os quais podemos beneficiar em muito nossos povos, em vez de nos determos naquilo que nos desune e que, por enquanto, nos divide - disse.

Uribe, por sua vez, evitou responder aos ataques de Chávez e Correa.

- Estamos em uma batalha contra o terrorismo que causa muitos danos à Colômbia e ameaça nossos vizinhos. Estamos nessa batalha e temos todo o afeto por nossos vizinhos, e o que queremos é cumprir o que diz a OEA: que ninguém proteja terroristas que causem danos a outro país. Não temos interesse em molestar território de outros países e sim sermos bons vizinhos - disse, em entrevista ao jornal peruano "El Comercio".

Já o assessor internacional da Presidência do Brasil, Marco Aurélio Garcia, afirmou que o Brasil não tomará uma posição sobre a crise entre Venezuela, Colômbia e Equador. Marco Aurélio disse que o governo brasileiro não conhece o teor do relatório atestado pela Interpol. Em sua opinião, o assunto voltará a ser tratado na próxima semana, em Brasília, durante a reunião de chefes de Estado da região, quando será constituída a União das Nações Sul-Americanas.

- O governo brasileiro está disposto a fazer essa aproximação - lembrou.

Já o alto representante para a Política Exterior da União Européia (UE), Javier Solana, assegurou ontem que a UE continuará a classificar as Farc como um grupo terrorista:

- As Farc atuam como um grupo terrorista e por isso continuarão em nossa lista de terroristas.

COLABOROU: Eliane Oliveira