Título: Lula se reúne com Lugo mas evita Itaipu
Autor: Oliveira, Eliane
Fonte: O Globo, 17/05/2008, O Mundo, p. 42

Presidente não fala de aumento de repasses. Discussão, só após posse de paraguaio

LIMA. Em seu primeiro encontro ontem com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva desde que foi eleito presidente do Paraguai, o ex-bispo Fernando Lugo não conseguiu pôr na pauta a proposta de revisão do Tratado de Itaipu, principal mote de sua campanha e motivo de inflamados discursos contra o Brasil. A conversa foi adiada para depois que Lugo tomar posse, em 15 de agosto, conforme posição brasileira desde o início dos ataques do paraguaio. Na reunião bilateral, Lula se limitou a repetir a intenção do governo brasileiro de estimular a industrialização e o aperfeiçoamento da agricultura no país vizinho.

- Em nenhum momento o tema Itaipu foi discutido - afirmou o assessor para Assuntos Internacionais da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia, que estará à frente das discussões em torno do assunto com autoridades paraguaias.

Mais tarde, em conversa com jornalistas, Lugo resgatou a oratória eleitoral e demonstrou que não desistirá de rever os termos do acordo, segundo ele firmado "em plena ditadura" e injusto para seu país:

- Os tratados energéticos de Itaipu e Yaciretá (com a Argentina) foram assinados nos anos 70, na ditadura, e (isso) não é justo para o Paraguai.

Referindo-se especificamente a Itaipu, Lugo acrescentou:

- O Paraguai é um dos poucos países do mundo que vendem sua energia a preço de custo e não de mercado.

Lugo afirmou que espera um consenso em torno do tema. Ele disse acreditar que as discussões sobre o tratado e a possibilidade de algum tipo de ajuste ocorrerão "o mais breve possível", provavelmente em 16 de agosto, um dia após sua posse.

Bandeira brasileira é queimada no Paraguai

Garcia deixou claro que Lula mantém sua posição de não rever a essência do tratado. Admite apenas tomar algum tipo de medida que melhore a remuneração paga ao Paraguai pelo energia que sobra de Itaipu.

No Paraguai, há sinais de animosidade contra os brasileiros que vivem no país. Na quinta-feira, um grupo de camponeses de Curupayty queimou uma bandeira brasileira. O ato chocou a representação diplomática do Brasil em Assunção.

- Foi triste ver na capa dos jornais a foto da bandeira do meu país queimando. Foi muito triste e injusto que se tenha feito isso contra brasileiros, que contribuem para o progresso e a riqueza do Paraguai - disse o embaixador brasileiro, Walter Moreira.

O protesto foi defendido pelo governador eleito do departamento de San Pedro, José Ledesma, que é aliado de Lugo. Ele ameaçou tomar ações depois que assumir o poder.

- Vamos ser implacáveis com os estrangeiros para que se respeitem nossas leis.

Sem saber dos protestos, Garcia relatou que, no encontro com Lugo - que também contou com a presença do atual presidente paraguaio, Nicanor Duarte - Lula assegurou que as relações com o Paraguai serão mantidas no mesmo nível.

Enquanto não resolve o problema, Lugo procura se aproximar de outros países, como a Venezuela. Ele afirmou que é preciso mudar a política externa do Paraguai, tradicionalmente amarrada ao Mercosul.

Com agências internacionais