Título: Temor é compra no exterior 'roubar mercado' nacional
Autor: D'Ercole, Ronaldo
Fonte: O Globo, 19/05/2008, Economia, p. 18

Mas crescimento de firmas brasileiras é de 20%.

SÃO PAULO. O forte ritmo de expansão das compras externas de bens de capital, que crescem a uma taxa três vezes maior que os investimentos (formação bruta de capital), traz à luz também o lado negativo das chamadas "importações do bem", segundo avaliação de diferentes entidades empresariais.

- Parte dessas importações está roubando mercado de equipamentos nacionais, e isso não aparece muito agora porque o mercado interno cresce muito. Quando houver uma acomodação, segmentos da indústria nacional de bens de capital vão sentir esse efeito - alerta Júlio Gomes de Almeida, do Iedi.

Newton Duarte, diretor da Área de Energia da Siemens, informa que tem investido no aumento de capacidade de algumas unidades de produção para atender às encomendas crescentes, mas mesmo com as vantagens de integrar um grupo multinacional, confirma que em disputas para o fornecimento de itens como turbinas a vapor está mais difícil competir.

- Diante de países com moedas mais fracas frente ao dólar, como a China, nós sofremos - diz ele, para completar: - Mas temos uma posição fabril forte no país, por isso estamos expandindo a produção e crescendo.

André Rebello, gerente do Departamento Econômico da Federação das Indústrias de São Paulo (FIesp), nota que, enquanto alguns fabricantes nacionais de bens de capital estão até ganhando mercados com a demanda mundial aquecida, há outros que estão sendo "esmagados" pelos importados chineses.

- Muitas empresas de máquinas fecharam, ou viraram importadores de produtos acabados - afirma.

Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados, entretanto, não vê as importações como ameaças aos fabricantes locais. Ele argumenta que, em 12 meses, até abril, a produção do setor nacional de bens de capital cresceu 19,9%, enquanto a expansão da indústria em geral foi de apenas 6,6%.

- A indústria nacional não deve estar dando conta dos pedidos - diz Vale. - Crescer a essas taxas não é normal nem para a produção local nem para as importações, e quando a atividade econômica se desacelerar, vai ser para toda a indústria: quem está investido agora não vai comprar de ninguém, nem lá fora nem aqui dentro. (Ronaldo D"Ercole)