Título: Na era da modernização
Autor: D'Ercole, Ronaldo
Fonte: O Globo, 19/05/2008, Economia, p. 18
Apesar de críticas, dólar baixo faz empresas importarem US$10 bi em máquinas, um salto de 45%.
O dólar mais barato e a economia interna aquecida fizeram as empresas brasileiras acelerarem as importações de máquinas para a ampliação e modernização da produção. Nos primeiros quatro meses do ano, as importações de bens de capital (máquinas e equipamentos) cresceram 44,7% ante o mesmo período de 2007. Trata-se de um ritmo de expansão 36,5% maior que o verificado ao longo do ano passado, quando as compras externas desses itens aumentaram 32,7%. De janeiro a abril deste ano, o Brasil importou US$10,2 bilhões em bens de capital, dos quais 64% foram gastos na compra de maquinário, partes e peças destinados à produção industrial. O restante foi destinado à aquisição de equipamentos utilizados por outros setores, como o de transportes e a agricultura.
- O câmbio pesa muito. Como está muito convidativo, mesmo empresas com certa capacidade ociosa têm diante de si perspectivas de aumentar as vendas, vão importar para substituir equipamentos e se modernizar - afirma o vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro.
Mercado interno é o maior beneficiado
De acordo com Castro, quem mais está aproveitando o dólar baixo para ter acesso a mais tecnologia e ganhar eficiência são principalmente as empresas que vendem mais no mercado interno. Isso porque só têm os benefícios do dólar baixo: importam máquinas por menos reais, e não têm prejuízos com a exportação.
A Lupo, um dos maiores fabricantes nacionais de meias, cuecas e lingeries, é um bom exemplo. No ano passado, a empresa investiu 4 milhões (cerca de R$11 milhões) na importação de máquinas italianas para sua fábrica em Araraquara, no interior paulista, e vai desembolsar outros 5 milhões (R$14 milhões) este ano.
- Nossas vendas estão 29% maiores do que no ano passado e, apesar de tirar rentabilidade das nossas exportações, o dólar barato é mais vantajoso para investir. Mesmo porque, mais adiante, quando o câmbio se equilibrar, teremos um parque mais competitivo - diz Valquírio Cabral, diretor Comercial da Lupo, que atualmente exporta 6% de sua produção.
Indústrias ganham eficiência e custo cai
Ironicamente, o setor têxtil, cujas exportações foram das mais atingidas pela valorização do real nos últimos anos, vale-se agora do câmbio para atender ao mercado interno em alta e se modernizar. Danielle Andrada, diretora de Marketing da Andrade Máquinas, importadora especializada em equipamentos para o setor têxtil, conta que, depois de crescer 30% em 2007, suas vendas estão 25% maiores este ano.
- Mesmo com a greve da Receita Federal (promovida pelos auditores fiscais por 55 dias e suspensa no último dia 12). Sem isso, teríamos crescido ainda mais - observa Danielle.
Júlio Gomes de Almeida, consultor do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) e ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, diz que o investimento na produção neste momento é "generalizado", com as empresas dos mais diferentes setores comprando máquinas e equipamentos, tanto no exterior do país quanto de fabricantes nacionais.
Dados da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) mostram que o faturamento do setor atingiu R$17,1 bilhões no primeiro trimestre de 2008, montante 29,6% maior do que o do mesmo período no ano passado. O consumo aparente de máquinas e equipamentos no país, indicador que corresponde à soma da produção local com as importações, menos as exportações, cresceu de R$14,75 bilhões para R$20,66 bilhões, um salto de 40,1% na mesma comparação.
- Esse movimento é ótimo, muito positivo para o país, que vai ter indústrias mais eficientes, produzindo mais e com custos menores - diz o economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale.