Título: Prioridade passa a ser evitar epidemia na China
Autor: Scofield Jr., Glberto
Fonte: O Globo, 19/05/2008, O Mundo, p. 24

No momento em que diminuem chances de encontrar sobreviventes do tremor, Pequim busca reassentar 5 milhões de desabrigados.

PEQUIM. Passados seis dias do pior terremoto a atingir a China em 30 anos, o governo começa a mudar o foco dos trabalhos na região nordeste da província de Sichuan, onde ocorreu o epicentro dos tremores, do resgate de vítimas para outra gigantesca tarefa: evitar a proliferação de doenças nos acampamentos de refugiados nas maiores cidades da região e cuidar do reassentamento de cinco milhões de pessoas que perderam suas casas na tragédia.

O representante da Organização Mundial de Saúde na China, Hans Troedsson, afirmou ontem que é necessário o governo concentrar esforços para garantir o suprimento de água potável e instalações sanitárias em boas condições de higiene de modo a evitar epidemias entre os deslocados pelo terremoto.

¿ A principal necessidade, agora, é água, comida e saneamento ¿ disse Troedsson.

O governo chinês declarou três dias de luto nacional a partir de hoje, em memória às vítimas do tremor. Na tarde de hoje, no exato momento em que for completada uma semana da tragédia, deverão ser respeitados três minutos de silêncio em todo o país de 1,3 bilhão de habitantes. Bandeiras deverão ser hasteadas a meio-mastro e todas as atividades de entretenimento devem permanecer fechadas até quarta-feira. Até mesmo o trajeto da tocha olímpica pelo país será cancelado pelos três dias. Depois que for reiniciado, um minuto de silêncio deverá ser guardado em cada trecho.

Segundo o Exército, 205.371 pessoas tiveram que abandonar a região do tremor e precisam ser realocadas por risco de novos desabamentos. O restante das vítimas poderá até voltar para as áreas onde morava, mas terá que reconstruir suas casas com a ajuda de financiamento público, segundo a mídia chinesa. Os custos da reconstrução ainda não foram estimados.

A agência de notícias estatal Xinhua informou ontem que o número de mortos subiu para 32.477, mas deverá alcançar 50 mil nos próximos dias, à medida em que os trabalhos de resgate forem revelando mais corpos. Segundo os militares, 21.566 pessoas foram resgatadas dos escombros na região nestes seis dias. Estima-se que mais de 10 mil possam ainda estar com vida sob prédios desabados.

Há 220 mil feridos e os 4,8 milhões desabrigados estão provisoriamente reinstalados em 2.885 abrigos. O diretor-geral da Organização Internacional para as Migrações, Brunson McKinley, que auxilia governos e a ONU no cuidado a refugiados, ofereceu ajuda.

Cerca de 200 estrangeiros de governos de outros países e ONGs estão ajudando nos trabalhos de resgate, um número inédito para um país que raramente admite precisar de ajuda e gosta de manter uma imagem de auto-suficiência, mesmo em grandes tragédias. As doações de chineses e estrangeiros para as vítimas do terremoto já somam US$860 milhões (R$1,4 bilhão).

Presidente Hu Jintao agradece ajuda internacional

O presidente da China, Hu Jintao, agradeceu ontem à comunidade internacional pela ajuda recebida pelo país:

¿ Expresso meus emocionados agradecimentos para os governos de outros países e amigos estrangeiros ¿ disse ele, segundo a Xinhua.

Ontem de manhã, um dos lagos formados pela queda de pedras no Rio Min se rompeu, mas o alagamento não chegou a ameaçar a região destruída pelos tremores, segundo Liu Ning, engenheiro do Ministério de Recursos Hídricos da China.

Ma Jian, diretor do Centro de Operações do Exército na região do terremoto, afirmou que todas as instalações nucleares (usinas de energia e de processamento de urânio) na província de Sichuan já foram inspecionadas e não há possibilidade de qualquer acidente na região.

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