Título: Mianmar: 30 mil crianças sem comida
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Fonte: O Globo, 19/05/2008, O Mundo, p. 24

Milhares de desnutridos poderão morrer dentro de poucas semanas

RANGUM. Uma ação humanitária de emergência foi lançada para salvar 30 mil crianças birmanesas que passam fome devido ao atraso na chegada do socorro internacional às vítimas do ciclone Nargis. O desastre matou pelo menos 78 mil pessoas no último dia 2 em Mianmar. Há 56 mil desaparecidos.

Segundo a organização Save the Children, menores de 5 anos que vivem no delta do Irrawaddy já estavam ¿muito desnutridos¿ quando a tempestade atingiu o país. E muitas crianças podem estar morrendo com a falta de alimentos. Estima-se que haverá milhares de mortes em poucas semanas, a não ser que elas recebam comida já.

O secretário de estado britânico para Ásia, Mark Malloch-Brown, criticou ¿os gargalos¿ que impedem o socorro. Até agora, apenas 25% das vítimas receberam ajuda.

¿ Devemos negociar um acesso à ajuda humanitária tão ambicioso e amplo quanto possível. Temos de reconhecer que vamos conseguir menos do que gostaríamos ¿ disse Brown. Não há apoio suficiente e trabalhadores com experiência em desastres.

Junta cria restrições ao trabalho de voluntários

Os comentários de Malloch-Brown coincidiram com a chegada de John Holmes, enviado das Nações Unidas a Mianmar, para convencer a Junta Militar que governa o país a autorizar a entrada de voluntários estrangeiros nas regiões atingidas. O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, visitará esta semana o país para acelerar as operações.

A Junta Militar determinou restrições à distribuição de suprimentos e deixou muitos dos sobreviventes do desastre (um número estimado em 2,5 milhões) em enorme necessidade de comida, água e abrigo. O primeiro-ministro britânico Gordon Brown acusou autoridades birmanesas de agir com ¿negligência¿ e oferecer um tratamento ¿desumano¿.

Também a França criticou duramente o regime birmanês e disse que a Junta Militar está na iminência de cometer crime contra a Humanidade ao não aceitar ajuda estrangeira. O navio Le Mistral foi proibido de desembarcar mil toneladas de alimentos e barracas para 15 mil desabrigados. A Junta autorizou, pela primeira vez, a entrada de médicos estrangeiros no país, provenientes dos vizinhos Tailândia e Índia.