Título: Fórum, aos 20 anos, mostra um país mais igual
Autor: Almeida, Cássia
Fonte: O Globo, 18/05/2008, Economia, p. 34
Com participações de Lula e de prêmio Nobel de Economia, debates passarão por reforma tributária e inovação
O Fórum Nacional, que chega a seu 20º ano, ampliará nesta edição seu leque de temas, tratando desde reforma tributária, passando por qualidade de vida e urbanismo, até amor. A semana de discussões, que será aberta pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, começa no próximo dia 26 e vai até o dia 30, no BNDES. Terá como uma das estrelas o lançamento do novo Índice de Desenvolvimento Social (IDS), que mostrará um país mais igualitário regionalmente. O ex-ministro do Planejamento João Paulo dos Reis Velloso, um dos fundadores do Fórum e seu principal idealizador, lembra das resistências à participação do PT, em 1988, primeiro ano do Fórum, quando a inflação atingia 80% ao mês, e conta como conseguiu convencer o prêmio Nobel de Economia de 2006, Edmund Phelps, a vir ao Brasil por 20% do que costuma cobrar por suas palestras.
- A idéia era reunir lideranças econômicas, políticas e sociais do país, com bastante pluralismo, para encontrar um rumo para o Brasil. Por isso, fui convidar o líder do PT na Câmara, Plínio de Arruda Sampaio, que prontamente aceitou o convite - conta Reis Velloso.
No IDS, Brasil tem desenvolvimento médio-alto
Mas essa participação foi vetada, num primeiro momento, pela Associação Nacional de Bancos de Investimentos (Anbid). A razão citada era o radicalismo do PT. O ex-ministro conta que disse: "Ou tem PT ou não tem Fórum".
- Conseguimos a participação e, até hoje, a pluralidade de idéias marca as discussões.
Este ano, a beleza do Rio e do Copacabana Palace tiveram papel fundamental para garantir a presença de Edmund Phelps. Segundo Reis Velloso, os dois fatores acabaram por seduzir o professor da Universidade de Columbia:
- Nosso mesmo gosto literário também ajudou.
Outra estrela do Fórum será o IDS. Mais abrangente que o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), medido pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), o novo indicador avalia as condições de saúde, educação, renda, trabalho e habitação.
- São cinco grupos de dados, com 12 variáveis diferentes. A diferença do IDS está na avaliação do trabalho e condições do domicílio, que não estão presentes no IDH - explica o economista Roberto Cavalcanti Albuquerque, do Instituto Nacional de Altos Estudos, responsável pela realização dos fóruns.
Para se ter uma idéia da aproximação dos indicadores entre as regiões, o Nordeste tinha um IDS de apenas 2,01 em 1970, bem distante dos 4,3 da Região Sul (quanto mais perto de 10, maior a qualidade de vida). Representava 45% do índice da região que exibia os melhores indicadores de qualidade. Em 2006, a distância se reduziu: o Nordeste apresenta uma taxa que é 81% da Região Sul.
- Houve um esforço dos governos para buscar essa igualdade, mesmo na fase negra do crescimento, entre os anos 80 e 90. Houve melhora significativa nas condições habitacionais - explica Albuquerque.
O Sudeste e o Sul, as mais bem posicionadas no índice, caminharam mais lentamente nas últimas décadas, o que explicou, também, a queda da desigualdade. Enquanto a melhoria no indicador do Nordeste foi de 3,6% ao ano, no Sudeste essa taxa cai para 1,5%.
Pela classificação do IDS, o Brasil ainda não alcançou alto desenvolvimento, como na avaliação das Nações Unidas. O país exibe 8,11 e, para estar no grupo dos mais desenvolvidos, precisaria alcançar 8,5:
- No IDH, para chegar ao topo, a taxa é de 8. No meu cálculo, divido esse grupo em alto e médio-alto - afirma Albuquerque.