Título: Venezuela acusa EUA de invasão
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Fonte: O Globo, 20/05/2008, O Mundo, p. 25

Avião militar americano entrou no espaço aéreo do país. Caracas também critica Colômbia

CARACAS. O governo da Venezuela anunciou ontem que convocará o embaixador dos EUA em Caracas e solicitará explicações para a invasão do espaço aéreo venezuelano por um avião militar. O incidente ocorreu no mesmo dia em que, segundo o governo de Hugo Chávez, soldados da Colômbia invadiram o território venezuelano. Os dois atos foram considerados por Caracas uma "provocação".

O embaixador americano, Patrick Duddy, será convocado pelo chanceler venezuelano Nicolás Maduro, que exigirá explicações. Segundo a Venezuela, um avião dos EUA invadiu o espaço aéreo do país e teria chegado a sobrevoar a ilha La Orchilla, onde há uma importante base militar venezuelana.

Ontem, o próprio Departamento de Defesa dos EUA admitiu que uma aeronave militar americana, com "problemas intermitentes de navegação", entrou no espaço aéreo venezuelano.

Segundo fontes do governo americano, um avião S-3 Viking da Marinha partiu da base americana na ilha de Curaçao para um vôo de treinamento em espaço aéreo internacional sobre o Mar do Caribe. O avião teria tido "problemas de navegação". Depois de algum tempo de vôo, o avião foi contatado por controladores de vôo do aeroporto de Maiquetía, a principal base aérea venezuelana e que atende à capital do país, Caracas.

Segundo a fonte, houve "problemas de idioma" na conversa de três minutos, mas que o tom da voz do venezuelano foi suficiente para que o piloto percebesse que estava dentro do espaço aéreo da Venezuela.

No domingo, a Venezuela já acusara a Colômbia de ter cometido uma grave violação do seu território. Sessenta militares colombianos teriam sido surpreendidos 800 metros dentro do país.

O ministro da Defesa da Colômbia, Juan Santos, negou que soldados tenham entrado no vizinho.

- Nesse lugar há um rio muito caudaloso (o Rio Arauca) e é praticamente impossível que tenha acontecido o que eles falaram que ocorreu - disse ele. - O governo venezuelano está mal informado.

De qualquer forma, os chanceleres dos dois países conversaram ontem e decidiram que especialistas dos dois países farão uma investigação conjunta sobre a ação. Já no domingo, o presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, tentara evitar uma escalada na crise:

- Se for constado que nossos soldados entraram ali, pediremos desculpas. Se não, daremos explicações.

Ontem, o governo da Venezuela se viu envolvido num terceiro problema internacional. A presidente do Chile, Michelle Bachelet, apoiou as críticas que seu Ministério do Interior fez ao presidente Hugo Chávez. No fim de semana, o venezuelano disse que o diretor interino da Interpol, o chileno Arturo Herrera, tinha ajudado no desaparecimento de corpos de pessoas mortas pela ditadura de Augusto Pinochet.

- Se outro país tem alguma informação pertinente que deva ser conhecida pelo Chile, deve informar-nos pelas vias formais - disse Bachelet, que disse que fora enviado um protesto formal a Caracas.