Título: Fim de linha para líder guerrilheira
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Fonte: O Globo, 20/05/2008, O Mundo, p. 25

Acusada de matar pai do presidente Uribe, Karina se rende e diz que as Farc estão quebradas

BOGOTÁ

Num duro golpe contra as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, a mulher de nível hierárquico mais alto da guerrilha se entregou domingo e ontem foi apresentada à população. Nelly Ávila Moreno, conhecida como Karina, era uma das guerrilheiras mais sanguinárias das Farc e é acusada de ter matado o pai do presidente Álvaro Uribe em 1983.

Karina se entregou para as autoridades colombianas no sul do departamento de Antioquia. Diversos aspectos em sua prisão indicam que a temida Frente 47 da guerrilha, que era comandada por ela, está em vias de ser desmantelada. A guerrilheira, por cuja cabeça o governo oferecia US$1 milhão, revelou que se entregou pois estava com fome, devido ao cerco realizado por tropas do Exército, mas muitos creditam também sua desistência por temer ser morta por seus próprios comandados. Ela afirmou que as Farc estão "quebradas" e "dizimadas" pela ação do governo.

- Tudo o que sei é que (as Farc) estão quebradas. Penso que as Farc estão dizimadas, mas, seguramente, muitos, em vez de se desmobilizarem, se farão matar (em confrontos com o governo) - disse Karina, usando o termo utilizado pelo governo para guerrilheiros e paramilitares que abandonam as armas e se entregam.

Karina, que tem entre 40 e 45 anos, foi apresentada ontem, ao lado do comandante do Exército, Mario Montoya, e da diretora do departamento de inteligência, María del Pilar Hurtado, na sede da 4ª Brigada Militar, em Medellín, quartel que era considerado o maior alvo da Frente 47.

Ele pediu que seus ex-companheiros desistam da luta armada.

- A mensagem que envio ao povo colombiano é que se deve fazer algo pela paz da Colômbia. Essa é a razão da minha desmobilização - disse ela, que acrescentou estar preocupada com sua família. - O que fiz é considerado pelas Farc uma traição.

Conhecida por execuções cruéis

A rendição de Karina não foi uma ação intempestiva. Ela começou a negociar sua rendição há algum tempo, e os detalhes finais, acertados através de sua filha adolescente, duraram 15 dias. Foi combinado que ela emitiria sinais de fumaça para que helicópteros do Exército chegassem até ela. Karina se entregou junto com seu namorado, o guerrilheiro Michín. Ela teria decidido se entregar depois que Iván Ríos, membro do secretariado das Farc, foi morto por um membro da Frente 47. Ela temia ser a próxima.

A guerrilheira corroborou informações que já tinham sido dadas pelo governo em relação à Frente 47, uma das mais violentos das Farc. A coluna guerrilheira, que já teve mais de 300 membros, está com apenas 50, e em más condições. Foi o sexto golpe nas Farc nos últimos sete meses, incluindo as mortes de Ríos, do também membro do secretariado Raúl Reyes e do líder traficante Negro Acácio.

Karina é considerada quase um mito na Colômbia, uma espécie de "Rambo" conhecida pela frieza com que matava adversários e pela crueldade de suas ações. Os anos de luta na selva a deixaram com várias cicatrizes no corpo e com um olho ferido.

Grande parte da fama de Karina se deve à acusação de ter matado Alberto Uribe, pai do presidente colombiana, durante uma tentativa de seqüestro, em 1983. O assassinato foi negado ontem por ela:

- Não tenho as minhas mãos manchadas por isso.

Karina participou de alguns dos maiores massacres das Farc, como os de La Chinita, em 1994, de Churidó e Carepa, em 1995, e no sítio Osaka, em 1996. Ela é acusada de ter sido a comandante do grupo que, em 1999, tomou o quartel do Batalhão de Fuzileiros em Chocó, matando 25 soldados. Era conhecida por ter executado friamente caminhoneiros que não queriam deixar que seus caminhões fossem usados para bloquear estradas.