Título: Hillary diz que Obama não deve cantar vitória
Autor: Passos, José Meirelles
Fonte: O Globo, 20/05/2008, O Mundo, p. 26
Hillary diz que Obama não deve cantar vitória
Senadora reage a rumores de que adversário poderia se proclamar candidato e diz que ainda pode dar volta por cima
LOUISVILLE, Kentucky. Hillary Clinton valeu-se ontem de uma inconfidência de um dos membros da equipe de Barack Obama para deixar seu adversário numa situação incômoda, insinuando arrogância de sua parte em se apressar a se declarar esta noite como o vencedor da disputa no Partido Democrata para indicação de seu candidato à Presidência da República.
- Uma pessoa pode se declarar qualquer coisa, mas como não tem os votos suficientes, isso não tem importância - disse ela num comício em Maysville, interior de Kentucky, referindo-se claramente à Obama.
Senador diz que não vai se declarar vencedor
Tratava-se, na verdade, de uma resposta a algo que no fim da noite anterior o próprio Obama já se vira obrigado a desmentir, ou "esclarecer", como preferiam dizer seus assessores: uma iniciativa que uma pessoa de sua equipe contara à mídia, no sábado, pedindo para não ser identificada.
A versão era a de que Obama decidira estar em Iowa hoje - e não em Kentucky ou Oregon, onde serão realizadas prévias eleitorais nesta terça-feira - porque anunciaria, ali, que a disputa pela nomeação do partido já teria terminado. Tal decisão se basearia no cálculo de que hoje, mesmo perdendo em Kentucky (a vitória no Oregon estaria assegurada) ele alcançaria a maioria do número de delegados - proporcionais aos votos populares nas prévias - necessários para a indicação (1.627). Faltam apenas 17 para isso e hoje estão em jogo 103.
Hillary irritou-se com a história:
- Nenhum de nós dois tem o número suficiente para assegurar a vaga do partido, embora eu esteja ciente de que meu adversário e seus aliados tentarão argumentar isso - disse ela, afirmando a seus simpatizantes que se receber uma votação massiva hoje ela poderia dar a volta por cima e superar Obama na votação popular.
Esse cálculo, no entanto, leva em conta os votos das prévias de Michigan e Flórida, que não são considerados pelo partido. Ele os descartou porque aqueles dois estados realizaram o processo de forma irregular. Apesar disso, Hillary quer que todos sejam computados. A equipe de Obama diz que isso é uma "desonestidade intelectual", pelo fato de que em Michigan só havia um candidato inscrito quando a prévia foi desautorizada: Hillary.
Um apelo de sua campanha a respeito será apreciado no próximo dia 30, mas a direção nacional já deu a entender que qualquer acordo que venha a ser feito não vai prejudicar a liderança de Obama na disputa.
Na noite de domingo, depois de ter conseguido reunir num comício um público jamais registrado na atual campanha presidencial por qualquer candidato - 75 mil pessoas foram ouvi-lo num parque às margens do rio Willamette, em Portland, Oregon - Obama desmentiu que declararia vitória hoje:
- Vamos apenas declarar que temos a maioria dos delegados. Temos mais algumas prévias pela frente (cinco), mas se as coisas saírem como pensamos em Kentucky e Oregon, achamos que vamos obter a maioria dos delegados; e esse é um marco significativo - disse Obama.
Procurando evitar um gesto de desrespeito à adversária e seus simpatizantes, o senador arrematou:
- Dizer que já obtivemos a maioria dos delegados não significa declarar vitória, pois não serei o indicado até que tenhamos a soma de delegados apontados pela votação popular com os superdelegados para atingir a cifra necessária (2.025). O que queremos destacar é que os eleitores nos deram a maioria dos delegados que eles podem determinar - esclareceu.