Título: Governo admite pela 1ª vez que a inflação vai estourar a meta do BC
Autor: Paul, Gustavo ; Aggege, Soraya
Fonte: O Globo, 21/05/2008, Economia, p. 22

Planejamento prevê IPCA a 4,74% este ano e juros a 13,25% em dezembro

Gustavo Paul, Soraya Aggege e Aguinaldo Novo

BRASÍLIA e SÃO PAULO. Pela primeira vez, o governo federal admitiu oficialmente que a inflação deste ano, medida pelo IPCA, ultrapassará o centro da meta de 4,5%, devendo ficar em 4,74% até dezembro, e incorpora elevação de juros superior à já decidida pelo Banco Central (BC). A informação consta do segundo relatório sobre receitas e despesas deste ano, enviado ontem pelo Ministério do Planejamento ao Congresso, prevendo ainda a elevação do IGP-DI, de 5,65% para 6,28%.

Segundo a Secretaria de Orçamento Federal, responsável pelos dados, o aumento da massa salarial este ano, de 12,59% para 14,69%, indicando maior consumo interno, foi um dos principais motivos. Também influiu o aumento do preço médio do petróleo em 2008, de US$100,67 para US$110,86.

As projeções oficiais apontam o aumento da taxa básica de juros nos próximos meses, subindo de 11,34%, na última estimativa, para 12,28% agora. Assim, os números oficiais sugerem que os juros poderão mesmo aumentar 1,5 ponto percentual nos próximos meses, chegando a 13,25% em dezembro. Essa é a expectativa do mercado financeiro, apurada pelo BC, que prevê uma taxa média de 12,38% este ano.

Lula lembra que consumo cresceu entre emergentes

Em discurso para moradores da favela de Heliópolis, em São Paulo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva mostrou ontem preocupação com a inflação:

- A inflação é a pior desgraça para o povo que vive de salário, porque a inflação come o salário - disse Lula, lembrando que os países emergentes estão consumindo mais, sobretudo alimentos.

E foi pela pressão da alta de preços dos alimentos que o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) subiu de 0,89% na segunda prévia de maio, contra 0,68% na quadrissemana anterior. Com isso, a Fipe elevou sua projeção para o fechamento da inflação no mês: de 0,72% para 1%.