Título: Polêmica nuclear aguarda Minc
Autor: Pinto, Anselmo Carvalho
Fonte: O Globo, 21/05/2008, O País, p. 3

Novo ministro é contra o licenciamento de Angra 3, que está sob análise do Ibama

O novo ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, terá um obstáculo atômico para superar durante a sua gestão à frente da pasta. Está em curso o licenciamento da usina nuclear de Angra 3, empreendimento contra o qual a ex-ministra Marina Silva lutava abertamente. Minc também é contra a obra. Durante seus mandatos de deputado estadual e como secretário do Ambiente, também assumiu abertamente posição contrária à construção de uma terceira usina nuclear no Estado do Rio.

Durante uma entrevista realizada ontem na sede da Secretaria estadual do Ambiente do Rio, Minc revelou que, antes de ser chamado para ser ministro, chegou a falar com o superintendente do Ibama no Rio, Rogério Rocco, sobre o assunto:

- E pensar que eu cheguei para o Rocco e falei: "Poxa, Rogério, ainda bem que não sou eu que vou licenciar esse empreendimento..."

Minc não quis dar mais detalhes sobre a usina, e considerou cedo demais para falar sobre o assunto com a imprensa como ministro.

Procurado pelo GLOBO, Rocco informou que o processo de licenciamento de Angra 3 está, neste momento, na fase final da análise da licença prévia.

O superintendente explicou que o processo de licenciamento voltou a correr depois que o Conselho Nacional de Política Energética aprovou a construção da usina, e a Justiça desobstruiu judicialmente o processo (que estava embargado por falhas no licenciamento). Com o caminho liberado, foram convocadas audiências públicas ano passado em Angra dos Reis, Paraty e Rio Claro.

- Como houve falha no prazos de divulgação dos encontros, uma nova decisão judicial determinou que o Ibama convocasse novas audiência públicas. Foram ampliadas as áreas em que o órgão ambiental teria que fazer a reunião. Além dos três municípios da Costa Verde, o encontro teria que ser feito no Rio e em Ubatuba. As audiências foram realizadas e, agora, o processo aguarda manifestação do Ibama para concessão ou não da licença prévia, que é a fase em que o empreendimento é aprovado ou não pelo órgão ambiental - explica Rocco.

A previsão é de que Angra 3 fique pronta até junho de 2014, caso não surjam muitos problemas relacionados a licenças ambientais e financiamento do projeto. A usina integrará o complexo da Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto, local onde também estão instaladas Angra 1 e Angra 2. A decisão do governo sinaliza uma potencial retomada do uso da tecnologia atômica na matriz energética brasileira.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva já se declarou favorável à opção nuclear para geração eletricidade como fonte auxiliar na matriz energética brasileira, fortemente sustentada nas hidrelétricas.

No mês passado, o presidente da Eletronuclear, Othon Luiz Pinheiro, afirmou que as obras da usina nuclear Angra 3 vão começar no segundo semestre, depois de ficarem paralisadas nos últimos 22 anos. Disse, na ocasião, que esperava receber ainda em abril a licença prévia ambiental do Ibama, depois de terem sido realizadas oito audiências públicas. Segundo a Eletronuclear, a licença de instalação, que permite o início das obras, seria entregue pelo Ibama até junho.

Novos estudos sobre os custos de construção de Angra 3, encomendados à empresa suíça Colenco, concluíram que serão necessários recursos da ordem de R$7,3 bilhões para concluir a construção. A usina, de 1.300 megawatts (MW) de capacidade, tem estrutura idêntica à de Angra 2.