Título: Não conte com nossa polícia
Autor: Pinto, Anselmo Carvalho
Fonte: O Globo, 21/05/2008, O País, p. 3

POLÍTICA AMBIENTAL

Governador de MT reage a plano de Minc de usar PM dos estados para proteger Amazônia

Ogovernador de Mato Grosso, Blairo Maggi (PR), voltou a dar ontem demonstrações de que sua relação com o novo ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, não será das melhores. Considerado "o rei da soja no Brasil", Maggi disse ontem que, se a Guarda Nacional Ambiental for mesmo criada para proteger a Floresta Amazônica, como sugeriu o novo ministro, não deverá contar com a ajuda da polícia de Mato Grosso. Pela proposta de Minc, a Guarda Nacional seria formada por policiais militares recrutados em diversos estados, como a Força Nacional de Segurança Pública.

- Acho até que pode criar (a Guarda Nacional). Mas não conte com a nossa polícia. Já temos pouco efetivo para cuidar do povo. Não tenho soldados para proteger a floresta. Tragam gente do Sul, de Curitiba, de Porto Alegre - disse o governador, após reunião com o coordenador do Plano Amazônia Sustentável (PAS), ministro Mangabeira Unger.

Apesar de garantir que não vai ceder PMs de seu estado, Maggi disse que, a princípio, acha boa a idéia de uma polícia ambiental na Amazônia.

- Acho interessante uma força de polícia que pode ser deslocada para atuar em determinadas áreas. É bom para o governo federal. Mas, para os estados que precisam ceder policiais, nem tanto.

Não é a primeira vez em que Maggi e Minc trocam farpas. Antes mesmo de assumir o Ministério, Minc chegou a dizer que, se deixassem, o governador "plantaria soja até nos Andes". Em nota, Maggi disse considerar as declarações "descabidas, inoportunas, extemporâneas e impróprias para um ministro de Estado". O governador faz pressão para que o governo reveja a resolução que proíbe os produtores de tomarem financiamentos oficiais se não tiverem licença ambiental.

Maggi também criticou a declaração de Minc de que conhece pouco o Brasil. Para o governador, com a declaração Minc desautoriza "a si próprio a emitir opiniões sobre uma realidade que desconhece". Maggi também já havia tido desentendimentos públicos com a ex-ministra Marina Silva. A maior discórdia envolveu os números do desmatamento medido pelo Instituto Nacional de Pesquisas Especiais (Inpe) nos quatro últimos meses do ano passado. Enquanto o instituto dizia que 1.737 km² de floresta haviam sido derrubados em Mato Grosso, Maggi insistia que os dados estavam errados. Maggi chegou a reclamar pessoalmente ao presidente Lula da divulgação precipitada de números.

Durante o encontro com Mangabeira Unger, Maggi voltou a insistir que o estado não tem como cumprir as exigências de uma resolução do Banco Central que condiciona o financiamento público ao licenciamento ambiental das propriedades rurais.

* Especial para O GLOBO