Título: Dossiê: contradições deixam CPI sem respostas
Autor: Franco, Bernardo Mello
Fonte: O Globo, 21/05/2008, O País, p. 8
Sessão será retomada hoje, mas a maioria governista já avisou que não permitirá acareação entre depoentes
Bernardo Mello Franco, Leila Suwwan e Adriana Vasconcelos
BRASÍLIA. Após oito horas e meia de sessão, a CPI do Cartão Corporativo não conseguiu resposta ontem para as principais perguntas sobre o dossiê com gastos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Em depoimentos separados, o ex-secretário de Controle Interno da Presidência José Aparecido Pires e o assessor parlamentar André Fernandes sustentaram a existência do dossiê - ainda que com outro nome - mas apresentaram versões contraditórias para o vazamento dos dados. Aparecido disse que vazou as informações "por engano ou descuido".
A sessão será retomada hoje, mas a maioria governista já avisou que não permitirá uma acareação entre os dois. Assim, a CPI deve acabar em 20 dias, sem desvendar o caso, alvo de investigação da Polícia Federal.
Protegido por um habeas corpus do Supremo Tribunal Federal que lhe permite omitir a verdade para não se incriminar, Aparecido disse que não quis enviar os dados a Fernandes e negou ter recebido ordens da chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, ou de sua secretária-executiva, Erenice Guerra.
Porém, em seu depoimento à PF, lido pelos parlamentares em reunião fechada, Aparecido apontou Maria de La Soledad Bajo Castrillo como coordenadora do grupo da Casa Civil que montou o que chamou de banco de dados sobre as despesas da Presidência desde 1998. Ela chefia a Diretoria de Recursos Logísticos da Presidência e trabalha com Erenice.
E-mail enviado "por engano"
O primeiro a depor foi Fernandes. Sob forte pressão da base, que tentou desqualificar seu depoimento, Fernandes relatou um almoço, no Clube Naval de Brasília, após o estouro do escândalo, em fevereiro, quando Aparecido teria apontado Erenice como chefe de uma força-tarefa para levantar as despesas do governo tucano. Fernandes disse que Aparecido detalhou no almoço a montagem do dossiê.
- Ele estava transtornado e disse várias vezes que foi Erenice que preparou um dossiê - disse Fernandes.
Indagado se Aparecido citou o dossiê, Fernandes respondeu que a expressão usada foi "banco de dados seletivo".
Sobre o e-mail com o dossiê anexado, enviado por Aparecido, Fernandes disse que entendeu a iniciativa como intimidação. Relatou que episódio semelhante teria ocorrido durante a CPI do Banestado, em 2004.
- Fiquei chocado, espantado. Entendi como uma intimidação ao partido e relatei ao meu superior - referindo-se ao senador Álvaro Dias (PSDB-PR), para quem trabalha.
Fernandes foi chamado por integrantes da base de "ex-petista frustrado e raivoso", "mentiroso" e "traidor".
Já Aparecido admitiu que a planilha com as despesas sigilosas saiu de seu computador, como já atestaram a Polícia Federal e a sindicância interna do Instituto de Tecnologia da Informação (ITI), da Casa Civil, mas disse que teria enviado o e-mail bombástico "por engano":
- Não tenho memória ou consciência de ter enviado esse e-mail para o André. Se anexei o arquivo, não houve dolo ou má-fé, foi por engano, foi falha humana. Como poderia, com a experiência que tenho, repassar informações reservadas para o André? Todo mundo na vida já passou um e-mail errado - disse, negando ter tratado do assunto com Dilma ou Erenice.
COLABOROU Luiza Damé