Título: Camponeses atacam mais dois brasiguaios
Autor: Freire, Flávio
Fonte: O Globo, 24/05/2008, O Mundo, p. 28
Fazendeiros conseguem escapar ilesos de grupo de 50 paraguaios fortemente armados.
SÃO PAULO. Incentivados pela decisão do presidente do Paraguai, Nicanor Duarte, de expulsar os produtores rurais estrangeiros em situação ilegal naquele país, um grupo de cerca de 50 camponeses paraguaios atacou ontem dois fazendeiros brasileiros em terras paraguaias - os chamados brasiguaios - que estavam em suas propriedades, em Pirapey, a 150 quilômetros de Encarnación, capital do Departamento de Itapúa, no Paraguai, onde se concentra o foco de conflitos. Fortemente armados, os paraguaios atiraram contra Eugênio Fridich e Anselmo Kessler, fazendeiros gaúchos que vivem há duas décadas no país. Eles foram surpreendidos quando trabalhavam na lavoura de trigo. Na noite de quinta-feira, outro brasiguaio, Rogério Viltes, também conseguiu escapar de um ataque.
Camponeses estavam armados com rifles
Depois de disparar vários tiros contra os dois - que conseguiram fugir sem que fossem atingidos -, os sem- terra paraguaios destruíram o caminhão e o trator usados no plantio. Os camponeses chegaram a arrancar as rodas do caminhão, segundo autoridades policiais. Os ataques atingiram também policiais do Grupo de Operações Especiais, chamados para mediar o conflito naquela região.
- Eles ficam de tocaia esperando a gente chegar nas lavouras e atacam em bando - disse ontem um fazendeiro brasileiro que mora em Tomás Romero Pereira, no distrito de Itapúa.
O clima de tensão na região tem feito com que os fazendeiros brasileiros contratem milícias para proteger as suas propriedades na área de fronteira ameaçada pelos camponeses paraguaios. Como o GLOBO revelou anteontem, donos de terras estão pagando até R$40 por 12 horas de trabalho para seguranças particulares. Na propriedade de Eugênio Fridich, os policiais encontraram ontem, logo após os ataques, vários projéteis nos assentos do caminhão.
A área onde fica a lavoura é, na verdade, de propriedade da empresa paraguaia Pezeta S/A e arrendada ao fazendeiro brasileiro, onde ele planta trigo, milho e soja. Os ataques foram organizados pelos camponeses do assentamento 1º de Março.
- Eles utilizaram rifles, escopetas, revólveres e pistolas de distintos calibres. Os que não tinham arma de fogo, tinham machados e foices - disse ontem o suboficial da polícia paraguaia, Remigo Benítez.
A relação entre paraguaios e produtores rurais brasileiros ficou ainda mais estremecida depois que o presidente Nicanor Duarte anunciou nesta semana que colocará em prática a Lei de Faixa de Segurança, aprovada há dois anos. A partir dela, os produtores rurais estrangeiros que estão em situação ilegal naquele país serão expulsos.
A decisão reforçou o sentimento nacionalista que dominou a campanha presidencial nos últimos meses. Na época, os adversários do presidente eleito, Fernando Lugo, usavam como plataforma política a tese de que, se eleito, Lugo retiraria as terras dos brasileiros. Antes e depois de vencer as eleições, Lugo sempre negou tal intenção.