Título: Agora é para valer
Autor: Rocha, Marcelo; Colon, Leandro
Fonte: Correio Braziliense, 09/05/2009, Política, p. 2

Ministério Público aciona Polícia Federal para investigar denúncias contra o ex-diretor do Senado João Carlos Zoghbi. Toda suposta apuração interna da Casa pode ser descartada pelo procurador. Carro da polícia do Senado deixa a casa de Zoghbi depois de ouvir depoimento da babá Maria Izabel, de 83 anos Virou pó a investigação da Polícia do Senado. Na segunda-feira, o Ministério Público Federal pedirá à Polícia Federal que apure as denúncias de irregularidades no crédito consignado oferecido aos servidores da Casa. A decisão foi tomada ontem pelo procurador Gustavo Pessanha Velloso, numa avaliação compartilhada por colegas. A medida também está em sintonia com a cobrança, intensificada nos últimos dias, de lideranças partidárias contrárias à atuação exclusiva da polícia legislativa no caso (leia mais na página 3).

Pessanha acompanha os desdobramentos da suspeita levantada contra o ex-diretor de Recursos Humanos do Senado João Carlos Zoghbi desde sua revelação pela revista Época. Apesar da argumentação do presidente José Sarney (PDMB-AP) de que a investigação do Senado teria a vigilância do MPF, numa espécie de lastro para o risco da pizza, o procurador decidiu trilhar um caminho diferente. Ontem à tarde, um policial legislativo chegou a se reunir com ele para dar satisfações, mas não surtiu efeito.

Com a decisão do Ministério Público Federal de acabar com o jogo de cena, saem enfraquecidos Sarney e Heráclito Fortes (DEM-PI), primeiro-secretário, que apostavam numa solução caseira. Enfrentaram críticas internas e de entidades como a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Na próxima semana, o procurador decidirá o que fará com o trabalho já realizado pelos policiais do Legislativo.

Laranja A polícia do Senado já colheu depoimentos de alguns dos principais personagens, como o da ex-babá de Zoghbi, Maria Izabel Gomes, de 83 anos, usada como laranja para ocultar a suposta ligação dele com a Contact Assessoria de Crédito e outras empresas que intermediavam o crédito consignado entre bancos e o Senado. As testemunhas ouvidas até aqui pouparam o ex-diretor. Negaram sua participação nos negócios, transferindo a um dos filhos a responsabilidade pela inclusão da babá na sociedade (leia mais abaixo).

Logo após o anúncio feito pelo MPF, no início da noite, o diretor da polícia legislativa, Pedro Ricardo Araújo Carvalho, afirmou que a entrada da PF não anula as ações desenvolvidas até aqui pelos policiais do Legislativo. Carvalho ressaltou que ainda não foi comunicado oficialmente, mas avaliou que o trabalho poderá ser feito em cooperação. O MPF dirá se isso será possível.

Paralelamente, uma outra frente de apuração interna pode apresentar algum resultado. A sindicância administrativa, conduzida por três servidores, avalia que os depoimentos pouco contribuirão para elucidar o caso depois de ouvir funcionários do Senado que foram assediados pela Contact. Diante dessa dificuldade, o grupo já pediu a todos os cartórios do Distrito Federal documentos ligados a Maria Izabel que comprovem a ligação de Zoghbi com a empresa de assessoria. São informações que podem ter alguma influência no pedido de aposentadoria.