Título: Lideranças contra Sarney
Autor: Colon, Leandro
Fonte: Correio Braziliense, 09/05/2009, Política, p. 3

O tucano Arthur Virgílio e o petista Aloizio Mercadante cobram do presidente da Casa mais ação para tirar o Senado da crise Virgílio: críticas à investigação da Polícia do Senado em torno das denúncias contra João Carlos Zoghbi Chamou a atenção nos últimos dias dentro do Senado a postura dos líderes partidários em deixar de lado o silêncio e cobrar em plenário o presidente José Sarney (PMDB-AP) sobre as denúncias de irregularidades na Casa. Não foi à toa que isso aconteceu. A pressão é resultado de uma insatisfação interna. Reservadamente, senadores têm reclamado da escassez de conversas fechadas com Sarney, as tradicionais ¿reuniões de líderes¿. A saída foi cobrá-lo publicamente.

Usaram a palavra para tratar da crise, por exemplo, os líderes Arthur Virgílio (PSDB-AM), José Agripino (DEM-RN) e Aloizio Mercadante (PT-SP). Precavido, Sarney quer evitar constrangimento e tem entregado a presidência da sessão a outros integrantes da Mesa Diretora quando percebe que algum colega irá pressioná-lo. Foi assim na última quinta-feira. O peemedebista passou o comando do plenário a Mão Santa (PMDB-PI) pouco antes de o líder do PSDB, Arthur Virgílio, disparar críticas à condução da investigação da Polícia do Senado em torno das denúncias do ex-diretor de Recursos Humanos João Carlos Zoghbi. O tucano chamou de ¿farsa¿ o depoimento dado pelo servidor à polícia da Casa naquele dia.

Arthur Virgílio e o presidente do Senado estão longe de serem bons amigos. Agora, o clima é o pior possível. Na quarta-feira, o senador criou uma saia-justa a Sarney ao pedir o nome do procurador da República encarregado de acompanhar as investigações da polícia legislativa. O presidente da Casa admitiu não ter alguém indicado e não gostou do episódio. A amigos, o peemedebista tem reclamado dessa cobrança. Alega que presta contas em plenário, como fez na última terça-feira, quando enumerou as medidas tomadas desde que assumiu o comando do Senado em fevereiro.

Pressão Para defender Sarney, apareceram o corregedor Romeu Tuma (PTB-SP) e o polêmico Wellington Salgado (PMDB-MG). O primeiro tem sido pressionado a deixar a função de investigador do Senado. Tuma foi o primeiro-secretário entre 2003 e 2005, período sempre incluído em suspeitas de irregularidades em contratos do Senado. Irritado com a pressão que ofusca os trabalhos legislativos, Sarney chegou a delegar ao atual primeiro-secretário, Heráclito Fortes (DEM-PI), a responsabilidade de responder às críticas administrativas. Não deu muito certo. Os líderes querem que o presidente do Senado assuma essa tarefa.

Por isso, Sarney fez um balanço na terça-feira passada. E pretende realizar outro na próxima semana, desta vez para apresentar o primeiro resultado do trabalho que a Fundação Getulio Vargas (FGV) vem fazendo na administração da Casa. Integrantes da Mesa Diretora já receberam reclamações de alguns senadores sobre essa auditoria. A tendência é a de que sejam apresentadas apenas sugestões de reduções de diretorias e gratificações por cargos de chefias, medidas que já foram anunciadas em março por Sarney, mas que ainda não foram cumpridas. A instituição apontará um inchaço administrativo, mas passará longe do aprofundamento da descoberta de irregularidades. Não foi feita auditoria financeira.