Título: Empréstimo negociado na sede da Força
Autor: Farah, Tatiana; Galhardo, Ricardo
Fonte: O Globo, 23/05/2008, O País, p. 3

Central teria assessorado Prefeitura de Praia Grande em contrato com BNDES

SÃO PAULO. Os empréstimos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para a prefeitura de Praia Grande, na Baixada Santista, foram negociados na sede da Força Sindical em São Paulo e contaram com uma "assessoria técnica" da entidade, que agendou reunião até na sede do banco, no Rio. A negociação em São Paulo, com a presença do então superintendente da Área Social do banco, Júlio César Maciel Raimundo, ocorreu em 2006. É que mostra correspondência eletrônica a que o GLOBO teve acesso e que foi entregue à Justiça Federal esta semana pela PF.

A prefeitura de Praia Grande obteve dois empréstimos do BNDES. Um deles, de R$124 milhões, teve o contrato fechado em 4 de dezembro do ano passado, com o valor de R$124 milhões. Desse total, R$40 milhões foram liberados. O outro empréstimo, aprovado em 6 de novembro do ano passado, com valor bem menor, de R$32,99 milhões, está na gaveta.

No dia 20 de julho de 2006, Fábio Tadeu Espinosa, sócio de Marcos Mantovani na Progus, empresa de consultoria envolvida no esquema de fraudes em empréstimos do banco, enviou um e-mail para a chefe do Departamento de Desenvolvimento Urbano do BNDES, no qual afirma: "Conforme sugerido pelo sr. Julio Cesar Maciel Raimundo (em reunião realizada em 12/07/2006 nas dependências da Força Sindical em São Paulo), pretendemos fazer uma apresentação prévia à senhora do projeto em questão. Assim sendo, conforme a senhora sugeriu, confirmamos reunião solicitada sobre o projeto da prefeitura de Praia Grande quando voltar de suas férias".

Advogado da Força e de Paulinho nega que tenha havido reunião na central

Além da data sugerida para a reunião, 3 de agosto de 2006, Espinosa anuncia os participantes do encontro em dois grupos: "Equipe da Prefeitura Estância Balneária de Praia Grande, secretário de Planejamento, representante da Secretaria de Obras e Planejamento" e "Equipe da Assessoria Técnica da Força Sindical". Em outro e-mail, de 2 de agosto daquele ano, Fábio Espinosa avisa que participará da reunião o assessor do prefeito de Praia Grande Jamil Issa Filho (um dos acusados de participar do esquema de fraudes) e um "membro do Conselho de Administração do BNDES". Nessa parte do texto, o nome do conselheiro é omitido por Espinosa, que informa, no entanto, que a reunião, agendada para o dia seguinte, contará com a participação, na sede do BNDES, da "equipe de assessoria técnica da Força Sindical".

Antonio Rosella, advogado da Força Sindical e do presidente da entidade, deputado Paulo Pereira da Silva, o Paulinho (PDT-SP), negou que tenha ocorrido alguma reunião do BNDES na central sindical. Ele afirmou que o nome da entidade e do deputado estão sendo usados indevidamente. Já o BNDES informou que os dois funcionários citados pertencem, de fato, ao quadro do banco. Eles seriam funcionários de carreira. A instituição, no entanto, não vai dar declarações. No site do BNDES, uma nota oficial informa que todos os contratos são aprovados por "decisão colegiada" do banco e que leva, em média, dez meses para cada contrato ser fechado.