Título: PF suspeita que prefeito usou verba pública para contratar prostitutas
Autor: Carvalho, Jailton de
Fonte: O Globo, 23/05/2008, O País, p. 4

Duas seriam menores; pretexto era promoção de festas em Coari, no Amazonas

BRASÍLIA. Nas investigações da Operação Vorax, a Polícia Federal descobriu indícios de que o prefeito de Coari (AM), Adail Pinheiro (PMDB), usou dinheiro público para fretar avião e contratar prostitutas, pelo menos duas delas menores, em Manaus. Segundo o coordenador da Vorax, delegado Jocenildo Cavalcante, o prefeito poderá ser indiciado no artigo 244 do Estatuto da Criança e do Adolescente. Pinheiro é apontado como chefe de uma organização acusada de fraudar licitações, obras e serviços para desviar verbas repassadas pelo governo federal e pela Petrobras ao município.

Só numa casa da prefeitura, num bairro pobre de Coari, a polícia apreendeu anteontem cerca de R$7 milhões, a maior parte em notas de R$50 e R$100. O dinheiro estava escondido em sete malas e caixas de papelão no forro da casa. Com base em documentos apreendidos e escutas, a polícia acusa Pinheiro de bancar festas com prostitutas de Manaus com dinheiro público. A polícia está preparando um novo pedido de prisão do prefeito. O primeiro foi rejeitado pelo Tribunal Regional da 1ª Região, em Brasília.

Segundo a polícia, as prostitutas eram contratadas em agências de Manaus e levadas em aviões fretados para Coari, a 460 quilômetros. Para não levantar suspeitas, as mulheres eram chamadas para fazer papel de recepcionistas em festas promovidas pela prefeitura. De acordo com as investigações, a prefeitura custeou pelo menos cinco vôos desses.

Irmão de prefeito se nega a responder a delegado

A polícia deve enquadrar Adail Pinheiro no artigo 244 do Estatuto da Criança e do Adolescente (submeter criança ou adolescente à prostituição ou à exploração sexual), que prevê pena de quatro a dez anos de prisão.

Na terça-feira, primeiro dia da fase ostensiva da Operação Vorax, a PF prendeu 23 servidores públicos e empresários, acusados de envolvimento com a organização supostamente chefiada por Pinheiro. Entre os presos estão alguns dos principais auxiliares do prefeito. Os acusados estão sendo indiciados por corrupção e formação de quadrilha, entre outros crimes. A organização é acusada de direcionar licitações, superfaturar obras e simular prestação de serviços para se apropriar de recursos repassados pelo governo federal e pela Petrobras, a título de royalties, pela exploração de gás e petróleo na região. De acordo com a PF, o município recebe até R$45 milhões por ano em royalties da Petrobras, o equivalente a um terço do orçamento do município. Com aproximadamente 85 mil habitantes, Coari é o segundo município em arrecadação do Amazonas. Só perde para Manaus.

O delegado Jocenildo interrogou ontem Eduardo de Amaral Pinheiro, irmão do prefeito também acusado de participar da organização. Pinheiro se recusou a responder às perguntas. Segundo o advogado José Alberto Simonetti, Eduardo Amaral ficou em silêncio porque não conhece a íntegra das acusações que pesam contra ele.