Título: Comida mais cara para os pobres
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Fonte: O Globo, 23/05/2008, Economia, p. 21

Custo com importação de grãos quadruplica para países em desenvolvimento, diz FAO

ROMA, GENEBRA e ESTRASBURGO (França)

Omundo terá uma supersafra de grãos este ano, mas isso não vai impedir que os preços permaneçam elevados, levando o custo com importação de alimentos a quadruplicar nos países pobres em 2008, em relação ao começo desta década, segundo a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO, na sigla em inglês). Em relatório divulgado ontem, a agência prevê que a produção global de cereais deve crescer 3,8% em 2008, puxada pela supersafra do trigo. Ainda que os preços cedam um pouco por conta do aumento de produção, os custos com importação de alguns produtos vai permanecer alto. Pelas projeções da FAO, os países pobres que importam arroz, por exemplo, verão os gastos com as compras do grão subirem até 40% este ano, depois de uma alta semelhante em 2007. O custo total das importações de alimentos, incluindo o de países desenvolvidos, vai superar pela primeira vez a marca de US$1 trilhão em 2008.

- Esta melhora na oferta deveria em princípio ajudar, mas não esperamos ver os preços caindo para onde estavam antes - disse o diretor-geral-assistente da FAO, Hafez Ghanem, ao apresentar o relatório "Perspectivas Agrícolas", feito em parceria com a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

Na próxima semana, quando ocorrerá uma reunião em Roma para debater a crise dos alimentos, a FAO e a OCDE divulgarão um relatório mais detalhado. Neste documento, a FAO fará uma comparação com as projeções de preços de commodities agrícolas entre 2008 e 2017 com os valores registrados dez anos atrás, segundo rascunho do texto ao qual a agência Reuters teve acesso: "Na média, durante os dez anos seguintes, a previsão é que os preços nominais dos cereais e oleaginosas fiquem entre 35% e 65% mais altos que a média dos últimos dez anos". Em termos reais, descontada a inflação, deverão ficar entre 10% e 35% mais altos, segundo o documento. A FAO atribui a alta dos preços ao aumento da demanda e da produção de biocombustíveis.

Parlamento Europeu propõe fazer estoques

Diante dos números, a alta comissária para os direitos humanos da ONU, Louise Arbour, fez um alerta:

- Um fracasso em agir de forma abrangente pode levar a um efeito dominó, colocando em risco outos direitos fundamentais, como saúde e educação - disse ela, em sessão extraordinária do Conselho de Direitos Humanos da ONU, em Genebra.

Apesar de menos afetadas pela crise, as nações ricas buscam soluções para uma possível escassez de alimentos. O Parlamento Europeu pediu ontem à Comissão Européia que faça estoques para enfrentar a escassez. Segundo o Parlamento, as reservas de cereais do bloco são suficientes apenas para 30 dias.