Título: Petróleo bate novo recorde, supera US$135, mas recua para US$130
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Fonte: O Globo, 23/05/2008, Economia, p. 22

Banco Central Europeu compara disparada atual a choque dos anos 70

NOVA YORK, WASHINGTON, DETROIT e QUITO. O preço do petróleo bateu novo recorde durante o pregão de ontem: US$135,09 o barril do tipo leve americano. Mas, ao longo dia, as cotações recuaram um pouco e fecharam em queda de 2,36%, a US$130,81. Em Londres, o barril do tipo Brent também bateu recorde de US$135,14, mas acabou fechando a US$130,51, numa queda de 2,19%. Quando o barril bateu US$135, muitos investidores aproveitaram para embolsar lucros e, por isso, as cotações acabaram recuando no fechamento.

A alta ao longo do dia foi provocada, mais uma vez, por preocupações com a aquecida demanda global frente ao baixo nível de estoques. Ontem foi divulgado o informe semanal do governo americano sobre os estoques nos Estados Unidos: houve queda de 5,4 milhões de barris, e a expectativa dos analistas era de uma subida nas cotações.

Os preços do barril hoje equivalem a seis vezes a cotação de 2002. Os EUA têm pedido à Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) para aumentar sua produção. Mas, ontem, no Equador, o secretário-geral da Opep, Abdullah al-Badri, voltou a afirmar que o cartel nada pode fazer para reduzir as cotações do petróleo.

Opep atribui alta a especulação e dólar fraco

Segundo al-Badri, na avaliação da Opep, o petróleo está subindo devido à especulação de investidores e à queda do dólar, e não por causa dos atuais níveis de produção.

O presidente do Banco Central Europeu (BCE), Jean-Claude Trichet, descreveu a atual escalada nos preços do petróleo e dos alimentos como semelhante ao choque do petróleo no início dos anos 70. Em entrevista à BBC, Trichet disse que, na crise dos anos 70, decisões erradas foram tomadas, como políticas monetárias mais flexíveis, que acabaram provocando índices altos de inflação e desemprego em massa por anos.

O BCE tem mantido a taxa de juros em 4% por causa de pressões inflacionárias, mesmo em meio à desaceleração econômica, e Trichet sugeriu que novos cortes não estão previstos.

Apesar da alta do petróleo, o Fundo Monetário Internacional (FMI) disse ontem que mantém inalteradas suas previsões para o crescimento mundial.

- As linhas gerais da avaliação da conjuntura mundial se mantêm - afirmou David Hawley, porta-voz do FMI, acrescentando que as estimativas da instituição serão atualizadas em julho.

Ford recua na promessa de voltar a ter lucro em 2009

Segundo Hawley, se os custos "significativamente altos" do petróleo e das commodities se mantiverem nesse patamar, poderá haver um efeito negativo sobre o crescimento. O FMI prevê uma taxa de 3,7% para a expansão mundial em 2008.

A disparada do petróleo já está levando a mudanças nos planos de grandes empresas. A Ford, que nos últimos meses vinha prometendo voltar a ter lucros em 2009, ontem anunciou que isso provavelmente não será cumprido e informou que vai reduzir sua produção de veículos na América do Norte.

O corte vai atingir principalmente a linha de picapes e de utilitários esportivos, os chamados SUVs, que se tornaram um modismo nos EUA, mas que, recentemente, tiveram suas vendas derrubadas porque consomem muita gasolina. As ações da empresa caíram 8,2% ontem.