Título: Muitos brasileiros são ocupantes ilegais
Autor: Wurmeister, Fabiula
Fonte: O Globo, 23/05/2008, O Mundo, p. 26

Governador eleito de San Pedro diz que invasão de terras em situação irregular é legal

BUENOS AIRES. O governador eleito do departamento (estado) paraguaio de San Pedro, José Ledesma, do Partido Liberal, é um dos mais fortes aliados do presidente eleito, o ex-bispo Fernando Lugo e, também, um dos principais defensores de uma política de redistribuição de terras em seu país. "Muitas leis foram violadas e os principais culpados foram os sucessivos governos paraguaios. Mas com Lugo essa festa vai acabar", assegurou Ledesma em entrevista ao GLOBO, por telefone, de San Pedro, um dos departamentos mais pobres do Paraguai e base de apoio do presidente eleito.

Janaína Figueiredo

Produtores rurais brasileiros estão assustados e temem a invasão de suas terras...

JOSÉ LEDESMA: É importante dizer que muitos brasileiros ocuparam ilegalmente suas terras e essas irregularidades devem ser corrigidas. Se os trabalhadores rurais paraguaios ocupam terras ilegalmente adquiridas por produtores rurais brasileiros, estão fazendo o que a lei manda, pois a Constituição de nosso país estabelece que todos os paraguaios têm direito a um pedaço de terra para trabalhar. O que o futuro governo vai fazer é investigar como cada colono, não só brasileiros, também argentinos, coreanos, japoneses e de outras nacionalidades, adquiriram suas terras. Os paraguaios também serão investigados. Temos de exigir o cumprimento da lei.

O senhor defende a invasão de terras?

LEDESMA: Se são terras ilegalmente ocupadas, claro, estamos defendendo nossa soberania. Somos patriotas e o futuro governo vai corrigir todas as irregularidades que existem há muitos anos. Mas, que fique claro, a culpa não é dos brasileiros e sim das autoridades paraguaias, que permitiram ocupações ilegais e que não exigem o cumprimento das leis ambientais de nosso país. Sabemos que muitos colonos brasileiros têm antecedentes penais em seu país e, por culpa das autoridades paraguaias, se instalaram em nosso país e hoje não respeitam nossas regras. Muitas leis foram violadas e os principais culpados foram os sucessivos governos paraguaios. Mas, com Lugo, essa festa vai acabar.

O senhor teme incidentes violentos a partir da posse do novo governo?

LEDESMA: Não, de forma alguma. Confiamos em que os colonos brasileiros entenderão que é necessário respeitar as leis do Paraguai. Um estrangeiro não pode ter grandes extensões de terra, quando muitos paraguaios não têm nada. Além disso, os que decidiram morar e trabalhar em nosso país devem respeitar nossas leis. Um dos principais objetivos do governo de Lugo é distribuir de forma equilibrada os recursos de nosso país. Vamos defender nossa soberania, exigindo o pagamento de tarifas mais altas pela energia de Itaipu e também que nossos compatriotas tenham acesso à terra, como prevê a Constituição paraguaia.

Que leis estão sendo violadas pelos colonos brasileiros?

LEDESMA: Por exemplo, a lei ambiental, que proíbe o uso de alguns produtos químicos, e a lei florestal, que exige a preservação de terras localizadas nas proximidades dos rios paraguaios. Os principais culpados são as autoridades paraguaias, que não exigem o cumprimento da lei e não cobram as multas que deveriam ser cobradas. O que vamos fazer é exigir o cumprimento da lei. Também teremos de resolver o problema das terras, porque em muitos casos elas foram adquiridas de forma irregular.

O senhor assegurou, em declarações a uma rádio local, que os colonos estrangeiros, sobretudo brasileiros, têm grandes latifúndios e são os verdadeiros invasores das terras paraguaias...

LEDESMA: Existem alguns casos, por exemplo, um produtor brasileiro de sobrenome Teixeira, que tem cerca de 35 mil hectares em Santa Rosa. Isso não é correto, é um exagero e viola nossas leis internas. Além disso, muitos não respeitam nossas leis, fazem uso predatório de nossas riquezas naturais. Se estão no Paraguai, devem cumprir as leis do Paraguai. Não queremos demonizar os brasileiros, longe disso, o que queremos e defender nossa soberania e atuar como patriotas, coisa que os governos anteriores não fizeram.