Título: PF apreende no Amazonas malas com R$7 milhões
Autor: Carvalho, Jailton de
Fonte: O Globo, 22/05/2008, O País, p. 8

Investigações atingem prefeito do município de Coari

BRASÍLIA. Depois de prender 23 pessoas acusadas de corrupção na Operação Vorax, a Polícia Federal apreendeu, na noite de terça-feira, uma montanha de dinheiro, aproximadamente R$7 milhões, numa casa da prefeitura de Coari, a 480 quilômetros de Manaus. Após recolher o dinheiro, que estava escondido em cinco malas de nylon e duas caixas de papelão no forro do teto da casa abandonada, a polícia e o Ministério Público Federal fizeram um segundo pedido de prisão do prefeito de Coari, Adail Pinheiro, suspeito de ser o chefe da quadrilha.

O primeiro pedido fora negado pelo desembargador Cândido Ribeiro. A polícia suspeita que o dinheiro, boa parte dele em notas de R$50 e R$100, é de origem ilegal e seria utilizado em campanhas eleitorais este ano.

Pinheiro é acusado de chefiar uma organização que, só entre 2001 e 2004, segundo a PF, teria desviado mais de R$49 milhões de verbas públicas a partir da prefeitura de Coari. Como o grupo se manteve em atividade até agora, a polícia suspeita que o desfalque, nos últimos quatro anos, seja mais que o dobro do rombo na primeira fase de atuação da organização. O grupo é acusado de fraudar licitações, superfaturar obras e simular serviços, entre outros crimes, para se apropriar de verbas destinadas à recuperação de estradas e até ao pagamento do salário-educação.

Coari é o segundo município mais rico do Amazonas. Só perde em volume de arrecadação para Manaus, a capital do Estado. Só em royalties pela exploração de petróleo e gás na região, a Petrobras repassa à Prefeitura cerca de R$45 milhões por ano, quase um terço do orçamento da cidade.

A PF batizou a operação de Vorax, por se tratar de uma bactéria desenvolvida para se alimentar de petróleo. A polícia cumpriu mandados de prisão temporária e de busca e apreensão de documentos nas cidades de Manaus (AM), Coari (AM), Novo Airão (AM), Boa Vista (RR) e Brasília (DF).

Com a quadrilha, a polícia apreendeu ainda 23 carros de luxo, entre eles um Audi, um Ford Fusion e um Corola, e uma lancha de luxo. Só os carros estão avaliados em mais de R$1,5 milhão. Entre os acusados estão Carlos Eduardo do Amaral Pinheiro, irmão de Adail Pinheiro, e alguns dos principais auxiliares do prefeito: o secretário de Administração, o presidente da Comissão de Licitação e o comandante da Guarda Municipal de Coari.

Na manhã de terça-feira, policiais sob o comando do delegado Jocenildo Cavalcante saíram às ruas de Coari para cumprir 23 mandados de prisão e 48 de buscas e apreensão. No início da noite, depois da detenção da maioria dos acusados, a PF descobriu a casa onde a organização teria escondido o dinheiro desviado. Boa parte das notas, novinhas, estava presa a cintas com o nome do Banco do Brasil, de onde os recursos teriam sido sacados. Só numa mala, os policiais contaram R$1 milhão. O dinheiro foi levado para uma agência da Caixa Econômica Federal.

- O dinheiro foi colocado em malas e caixas. Parece que foi tudo juntado na correria. Acho que queriam esconder da polícia - afirmou o superintendente da PF no Amazonas, Sérgio Lúcio Fontes.