Título: Deputado é citado em gravação da PF
Autor: Braga, Isabel; Brígido, Carolina
Fonte: O Globo, 28/05/2008, O País, p. 4
Conversa interceptada tratava de partilha de dinheiro desviado do BNDES
SÃO PAULO. O nome do deputado Paulinho (PDT-SP) é citado numa conversa telefônica grampeada pela Polícia Federal em que participantes do esquema que desviou verbas do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) discutem a partilha da propina. Paulinho, segundo as gravações, é parte do "custo político" da transação, que envolveu o rateio de R$4 milhões da comissão arrecadada com o empréstimo de R$124 milhões.
Um dos mentores do esquema, o empresário Manuel Fernandes de Bastos Filho, o Maneco, que está foragido, teria orientado o sócio João Pedro de Moura, consultor da Força Sindical e ex-conselheiro do banco, a fazer o prefeito de Praia Grande, Alberto Mourão (PSDB), cumprir o acordo. Mourão queria cortar a comissão pela metade. A negociação é explicada em conversa entre Maneco e Boris Timoner, executivo prestador de serviços das Lojas Marisa e investigado no esquema.
Além de intermediar a contratação pela Marisa da consultora Progus (com a qual o grupo trabalhava para obter os empréstimos no BNDES), Timoner fez parte do esquema que culminou com o empréstimo concedido à Praia Grande, segundo a PF:
- Fala, Maneco!- diz Timoner, amigo de Maneco e que também teria, segundo a PF, propriedades em Praia Grande.
- Você pode falar?- pergunta o empreiteiro.
- Posso.
- Então, vamos lá. Primeiro, BNDES, vou te passar como é que ficou.
- Tá.
- O João Pedro, na segunda-feira... O Jamil (Issa Filho, então assessor de Alberto Mourão) me ligou sem o Mourão saber, né? Tu sabe que a conversa que ele queria era dar R$2 milhões, né?
- Hã.
- Aí, eu peguei, escolei bem o João (Pedro Moura), porque eu não podia me impor, né?
- Hanrã.
- Eu tinha de chegar numa situação assim... "Olha, não leve a mal, nós ficamos até agora aí pra falar contigo, o pessoal tá querendo saber como é que vai ficar a situação". O João começou o discurso. Eu falei: João, tu fala que o combinado eram R$4 (milhões), que R$1 (milhão) era custo político. Que eram R$3 (milhões). Que as pessoas que estão envolvidas nisso, fala o nome, Paulinho, Tosto, Gaspar, Mantovani, Fabio. E aí fica difícil porque é uma coisa que você falou lá atrás e eu falei pra todo mundo, dei minha palavra, e eu não tenho nem como chegar no pessoal e falar que não é o que foi falado- termina Maneco.
Anteontem, em depoimento à Justiça Federal, João Pedro de Moura negou que Paulinho esteja envolvido. Ele disse ter usado o nome do pedetista de maneira indevida tanto para captar clientes quanto para aumentar sua parte no rateio de comissões.