Título: Minc anuncia fundo privado para a Amazônia
Autor: Éboli, Evandro; Damé, Luiza
Fonte: O Globo, 28/05/2008, O País, p. 8
Noruega depositará US$100 milhões, diz ministro ao tomar posse; outro decreto permitirá ao Ibama fazer leilões
BRASÍLIA. O ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, anunciou ontem, logo após tomar posse, que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinará decreto criando um fundo para proteger a Floresta Amazônica. Será um fundo privado, com recursos nacionais e internacionais, administrado pelo BNDES. Minc adiantou que a Noruega vai depositar, em setembro, a primeira parcela de US$100 milhões. Outro decreto dará poderes ao Ibama para driblar a burocracia e leiloar imediatamente todos os bens apreendidos com quem cometer crimes ambientais.
O decreto de criação do fundo, segundo o ministro, será assinado em 5 de junho.
- Todo mundo diz que a Amazônia é importante. Todo mundo chora quando se corta uma árvore na Amazônia. Agora, tem 25 milhões de pessoas que moram lá e tem que ter recursos para sobreviver, com práticas sustentáveis - disse Minc.
Em conversa com o ministro de Assuntos Estratégicos, Mangabeira Unger, Minc afirmou ser um "ecodesenvolvimentista". Animado com a posse, disse ainda que será rígido na punição a quem desobedecer à legislação. Adiantou que vai agilizar as licenças ambientais, mas não será "um carimbador maluco", como na música de Raul Seixas.
"Somos soberanos, mas contribuições são bem-vindas"
O ministro tem um encontro em Bonn, na Alemanha, na próxima quinta-feira, com autoridades de vários governos.
- Vou dizer a eles que somos soberanos, mas que as contribuições são bem-vindas para que possamos exercer nossa soberania ambiental.
Sobre o decreto que permitirá ao Ibama leiloar imediatamente bens apreendidos, Minc explicou que hoje a burocracia impede a venda de madeira e de caminhões que transportam toras. Os proprietários recorrem à Justiça e conseguem reaver seus bens, que ficam meses em depósitos de órgãos do governo.
O ministro prometeu dar continuidade ao trabalho de Marina Silva e manter todos os programas da gestão passada, mas anunciou que irá incluir alguns temas na pasta, como o saneamento ambiental e a política centífico-tecnológica.
- Quem se lembra daquela música do Raul Seixas do carimbador maluco? Eu não serei o carimbador maluco, não darei o carimbo da improbidade administrativa. Precisamos dar licenças mais ágeis e com mais rigor.
Minc comentou também a pressão de governadores da Amazônia para tentar derrubar no Conselho Monetário Nacional (CMN) decreto que proíbe repassar recursos públicos para quem desmata. Disse que, apesar da pressão, a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, recebeu nesta terça uma carta assinada por oito secretários estaduais de Meio Ambiente da Amazônia afirmando que as condições podem ser cumpridas.