Título: Relatório da CPI ignora dossiê sobre gastos tucanos
Autor: Vasconcelos, Adriana; Damé, Luiza
Fonte: O Globo, 28/05/2008, O País, p. 10

Oposição apresentará texto paralelo propondo responsabilizar a ministra Dilma e mais 15 funcionários da Casa Civil

BRASÍLIA e RIO. Diante do anúncio prévio do relator da CPI do Cartão Corporativo, deputado Luiz Sérgio (PT-RJ), de que não pretende sequer mencionar em seu relatório o dossiê com gastos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, a oposição apresenta hoje um relatório parcial que, independentemente de ser acolhido ou não pelos governistas, deverá ser encaminhado ao Ministério Público Federal. Como sub-relatores da CPI, os deputados Carlos Sampaio (PSDB-SP) e Índio da Costa (DEM-RJ) prometem comprovar a participação da ministra Dilma Rousseff e mais 15 funcionários da Casa Civil na elaboração e no vazamento do dossiê.

Os dois sub-relatores deverão propor ao MP a abertura de inquérito civil para apurar ato de improbidade administrativa de ministros e ex-ministros do atual governo, como Altemir Gregolin (Pesca) e Matilde Ribeiro (Igualdade Racial), e do passado, como Francisco Weffort (Cultura). Sampaio adiantou que vai propor ao Tribunal de Contas da União (TCU) que analise os gastos de alguns ecônomos, especialmente os da Presidência da República, que tiveram gastos acima de R$1 milhão.

- Não quero prejulgar ninguém. Por isso, no caso dos ecônomos, estou sugerindo apenas a averiguação por parte do TCU - explicou Sampaio. - Só não vou pedir providências no caso da ministra Dilma e de seus 15 assessores porque, neste caso, já tomei a iniciativa de fazer uma representação contra todos eles no MP.

Sobre seu relatório final, o petista Luiz Sérgio diz que nada terá sobre o escândalo do dossiê:

- Na minha avaliação, esse é um assunto para ser tratado pela Polícia Federal.

Dilma responde a presidente de CPI: "Eu não menti"

Ao perceber a estratégia governista de encerrar logo a CPI, dia 5 de junho, a presidente da CPI, senadora Marisa Serrano (PSDB-MS), fez um desabafo lançando suspeitas sobre a ministra Dilma:

- Ela não falou a verdade aos senadores quando disse que não havia dossiê. Sabemos hoje onde foi feito e quem coletou os dados. É crime fazer dossiê? A Casa Civil pode fazer esse tipo de edição? As pessoas que fizeram foram demitidas, responsabilizadas? Precisamos de mais tempo para responder a essas perguntas. Negar a acareação não é republicano.

No Rio, Dilma disse ontem que não mentiu quando depôs na Comissão de Infra-Estrutura do Senado. Em resposta a Marisa Serrano, Dilma preferiu se esquivar da acusação.

- Pergunte isso para ela. Eu não respondo isso. Eu não menti - disse ao sair do XX Fórum Nacional do BNDES.

Também no Palácio do Planalto, o episódio dossiê deverá se encerrar com apenas um culpado. A comissão de sindicância da Casa Civil que apurou o vazamento do dossiê sugeriu a abertura de processo administrativo e disciplinar contra o ex-secretário de Controle Interno José Aparecido Nunes Pires, de cujo computador os dados foram transmitidos, em 20 de fevereiro, para André Eduardo da Silva Fernandes, assessor do senador Álvaro Dias (PSDB-PR).

O resultado da sindicância, que não identificou mais nenhum envolvido, está sendo analisado pela Subchefia de Assuntos Jurídicos da Casa Civil, para identificação de eventuais falhas de procedimento que possam comprometer a conclusão. Ainda nesta semana, o documento deverá ser encaminhado a Dilma, para criação da comissão administrativa.

Na CPI, da nada adiantou o protesto da presidente da CPI: os governistas derrubaram, um a um, todos os requerimentos apreciados ontem. Entre eles, o pedido de acareação entre Aparecido e André Fernandes. O deputado Carlos William (PTC-MG), um dos autores do pedido de acareação, mas que orientou o voto contra, disparou:

- Essa CPI não andou. Está capenga, e vai ser enterrada hoje (ontem). O que fizemos foi defender o governo.

No fim da sessão, a presidente da CPI não disfarçou sua decepção:

- Claro que fico frustrada. Pelo menos vamos colocar um freio na gastança do governo. Espero que aprovemos uma nova legislação regulando o uso dos cartões corporativos.

COLABOROU Flávio Tabak