Título: R$1 tri em empréstimos no país
Autor: Batista, Henrique Gomes
Fonte: O Globo, 28/05/2008, Economia, p. 21
Volume bate recorde em abril e deve chegar a 40% do PIB este ano
Henrique Gomes Batista
Pela primeira vez na História, o total de crédito na praça no Brasil ultrapassou R$1 trilhão, informou ontem o Banco Central (BC). Em abril, somando empréstimos livres e direcionados, o estoque chegou a R$1,018 trilhão, o equivalente a 36,1% do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país). Houve expansão de 2,5% frente a março e de 30,9% em relação a abril de 2007. O volume continua crescendo em todas as categorias e deve atingir 40% do PIB até o fim do ano. Porém, pelo segundo mês consecutivo, o BC identificou que a demanda das empresas superou a dos consumidores.
Segundo o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, só em abril os empréstimos das empresas cresceram 4,4% frente a março, contra 2,7% dos consumidores. O crédito consignado, por exemplo, que vinha subindo entre 6% e 8%, cresceu 2,4% no mês passado. Com isso, em 12 meses, os empréstimos para o setor produtivo têm variação superior aos das pessoas físicas: 37,8% contra 34,1%. Este mês, o ritmo se mantém. Segundo o BC, até 13 de maio o valor destinado às pessoas jurídicas cresceu 3,3%, contra 1,8% às físicas.
- Estamos em um período de acomodação. Mas o crédito das empresas tende a continuar subindo, seja pelo crescimento da economia, seja pelo cenário externo - disse Lopes.
O professor Joaquim Elói Cirne de Toledo, da USP, concorda. Segundo ele, a turbulência no mercado externo fez com que as empresas se voltassem para o Brasil. Mas Cirne de Toledo ressalta que isso só terá impacto na política de juros - atualmente em alta para tentar controlar a inflação - a longo prazo, pois o crédito que se destina a investimento industrial demora um pouco para gerar maior capacidade de oferta de produtos no mercado interno para atender à demanda de consumo.
Meirelles: fator de inclusão social
Já para Eduardo Yuki, economista do banco BNP Paribas, o aquecimento dos empréstimos a empresas está sendo impulsionado pelo capital de giro, o que indica crescimento robusto da atividade doméstica:
- Se a alta do crédito para investimento e ampliação da capacidade produtiva apresentar uma dinâmica mais favorável, deverá possibilitar a ampliação da oferta e aumento do crescimento potencial.
Roberto Vertamatti, diretor-executivo da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), acredita que chegar a R$1 trilhão não é uma grande vantagem, já que, mesmo que o crédito dobrasse, ainda estaríamos muito aquém de outros países. - Obviamente o crédito para as pessoas físicas continuará a crescer. Hoje temos cerca de R$345 bilhões, o que não é muito, apesar de ser recorde. E o governo precisa saber que isso é necessário para crescer, que não pode ser visto como meio de pressão de inflação de demanda, mas de incentivo a investimentos.
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse ontem no Rio que o volume de crédito no país alcançará 40% do PIB em 2010.
- Estamos nos aproximando dos padrões internacionais de crédito.
Segundo o BC, o que mais cresce atualmente no país, tanto para pessoas físicas como empresas, é o leasing, puxado por veículos (30% maior que entre janeiro e abril de 2007). Só no mês passado o leasing cresceu 7,2% para consumidores e 5,7% para pessoas jurídicas (compra de máquinas e equipamentos).
Henrique Meirelles, presidente do BC, disse ontem em São Paulo que o crédito é um fator de inclusão social.
- Tivemos uma elevação consistente no nível de crédito nos últimos anos, mas ainda estamos aquém de outros países. Isso mostra que temos potencial para crescer.
Mas há o outro lado. O autônomo Sebastião Soares viu um empréstimo de R$710, obtido numa financeira em fevereiro, virar uma dívida de R$1.800. Ele conta que, para garantir a compra de uma casa, sua mulher agiu com emoção e não fez as contas:
- Hoje, só faço crediário e financiamento em até quatro vezes. Os juros são abusivos. Existe uma facilidade enorme no mercado e as pessoas precisam ficar atentas.
COLABORARAM Aguinaldo Novo e Fabiana Ribeiro