Título: Agressor já está preso
Autor: Merola, Ediane; Araújo, Vera
Fonte: O Globo, 28/05/2008, Rio, p. 12

Motorista acusa vítima e alega legítima defesa, mas versão é desmentida por testemunhas

Só depois de ter sua prisão decretada pela Justiça, Itamar Campos Paiva, de 45 anos, que agrediu um pedestre com uma barra de ferro na Tijuca na última sexta-feira, decidiu se entregar na tarde de ontem. Em depoimento ao delegado da 19ª DP (Tijuca), Walter Alves de Oliveira, Itamar alegou legítima defesa, dizendo que a agressão partiu primeiro da vítima, André Luiz Reuter Lima, que teria lhe dado um soco. Segundo o agressor, só depois ele foi ao carro buscar a barra de ferro, atingindo André na cabeça. A versão é contestada por testemunhas.

Parentes da vítima ficaram indignados ao saber do depoimento.

¿ Ele agora vai dizer que é Jesus Cristo, Madre Teresa de Calcutá. O que bandido diz quando é preso? Que é inocente. Mas não adianta, há testemunhas. Os motoristas de um ponto de táxi viram tudo, os filhos da vítima também são testemunhas ¿ disse o agente de segurança Leandro Alves Ribeiro, irmão de André.

No depoimento de cerca de três horas, Itamar negou que tivesse avançado o sinal com seu Fiat Uno e disse que foi xingado e perseguido por André. Ele contou que foi tomar satisfações com a vítima, deixando a mulher, Celiana Pereira da Silva, no carro. Itamar disse que levou um soco de André e voltou para o carro para buscar a barra de ferro no porta-malas.

¿ Ele disse que foi agredido e alegou legítima defesa. Itamar admitiu que agrediu, mas diz que foi agredido também. Trata-se de uma estratégia de defesa. Em depoimento, os filhos da vítima contaram que Itamar já saiu do carro com a barra de ferro na mão para agredir o pai deles. Há algumas contradições ¿ disse Walter Alves.

Arma do crime foi jogada num rio

O depoimento de Itamar tem várias contradições comparado aos relatos feitos pelos dois filhos da vítima, de 13 e 14 anos, e de um colega deles. Os três contaram que saíam de um restaurante quando Itamar avançou o sinal, quase atropelando o grupo. Segundo essa versão, André chamou o motorista de ¿palhaço¿ e Itamar foi tomar satisfações com ele, já com a barra de ferro na mão. Os jovens contaram que a barra era de ferro maciço, enquanto Itamar alega que era um cano que usava como alavanca para trocar pneus. No entanto, um amigo do agressor confirmou à polícia a versão dos adolescentes.

No dia da agressão, Itamar pediu ao amigo, cujo nome os investigadores não quiseram revelar, que escondesse a arma do crime em sua casa, na Favela do Muquiço, em Guadalupe. Como a polícia esteve na manhã de ontem na casa dele à procura de Itamar, o amigo resolveu jogar a barra de ferro num rio, no final da rua. Ele se comprometeu a procurar a arma do crime e entregá-la à polícia.

¿ Se for comprovado que ele ajudou o agressor a ocultar a arma, ele poderá ser indiciado por favorecimento. Quanto a Itamar, ele já está respondendo por tentativa de homicídio ¿ disse o delegado.

Itamar não quis falar com a imprensa. Seu advogado, Cleyton Caetano, minimizou o caso, dizendo se tratar de uma briga de trânsito:

¿ Foi um acidente de percurso.

A polícia investiga ainda a informação de que a mulher de Itamar teria instigado o marido a matar André durante a discussão.

A família de André acredita que Itamar demorou para se entregar à polícia para ganhar tempo e criar sua versão para o crime. De acordo com Leandro, os parentes da vítima vão contratar um advogado:

¿ Ele (Itamar) quer fugir da responsabilidade. Demorou para se entregar porque estava montando uma história com o advogado dele. Mas não adianta, há testemunhas.

Para o irmão de André, a prisão de Itamar não pode ser relaxada, para o bem da sociedade:

¿ Ele tem que apodrecer na cadeia. Estamos felizes de que um homem como esse esteja preso.

Amigos de André estiveram ontem no Hospital Pasteur, no Méier, mas somente a família pôde visitar o paciente, que continua internado em estado grave no CTI. Segundo Leandro, os sinais vitais de seu irmão e a pressão estão equilibrados.

De acordo com um boletim médico, André foi submetido ontem a vários exames, entre eles uma tomografia computadorizada. Os testes mostraram que ele apresenta alguns reflexos neurológicos. Parte da sedação vai começar a ser retirada, para avaliação do quadro clínico. O paciente continua respirando com auxílio de aparelhos. Não há previsão de novas cirurgias.

Os filhos de André ainda não foram visitar o pai. A família quer evitar novo choque, pois o rosto da vítima ainda está inchado e com um grande hematoma. Segundo Leandro, o que a família mais quer agora é que André sobreviva e seus filhos superem o trauma.

¿ As crianças tiveram crises nervosas, ficaram três dias à base de remédio, precisaram de atendimento médico. Eles gritavam: ¿Deus, não leve meu pai¿ ¿ contou Leandro.

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