Título: Sem motivo para festa
Autor: Albuquerque, Carlos
Fonte: O Globo, 28/05/2008, Ciência, p. 31

Desmatamento cai na Mata Atlântica, porém restam apenas 7,26% da floresta

A boa notícia: entre 2000 a 2005, a Mata Atlântica teve uma redução de 69% na sua taxa de desmatamento em relação ao período de 1995 a 2000. A má notícia: restam apenas 7,26%, o equivalente a 97.596 km2, de sua área original, que era de 1,3 milhão de km2, em 16 estados. Os dados fazem parte de um atlas desenvolvido em parceria pela Fundação SOS Mata Atlântica e pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), apresentado ontem em São Paulo.

- Essa redução de 69% em relação ao período anterior, de fato, é uma boa notícia. É um excelente sinal para este novo século - conta Márcia Hirota, diretora de gestão do conhecimento da SOS Mata Atlântica e coordenadora do estudo. - Porém, temos um sinal de alerta, mostrando que, apesar da redução geral, o desmatamento da Mata Atlântica continua em alguns lugares. Isso exige atenção das autoridades, das ONGs e da população brasileira.

No Rio, efeito formiga

Segundo o trabalho, intitulado "Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica", Santa Catarina foi o estado que mais desmatou nesse período, com a derrubada de 45,5 mil hectares de mata. Já o Rio, que foi líder do desmatamento entre 1990 e 1995, com 140 mil hectares devastados, apresentou uma redução de 85% entre 2000 e 2005.

- São dois casos bem distintos porque quando se fala de Mata Atlântica, estamos tratando de um bioma extremamente vasto e diversificado - explica Márcia.

De acordo com a coordenadora do estudo, no caso de Santa Catarina, os dados são bem significativos, já que o estado é um dos poucos que ainda apresenta uma grande cobertura vegetal nativa. Três municípios de Santa Catarina foram os que mais perderam essa cobertura: Mafra, Itaiópolis e Santa Cecília.

- O que está motivando o desmatamento em Santa Catarina é a atividade madeireira - explica ela. - Já a melhoria verificada no Rio tem por trás dela uma série de fatores, como maior conscientização e atuação do poder público. Mas isso não significa que esteja tudo bem.

De fato, levantamentos de campo feitos durante o trabalho identificaram pequenas áreas de desmatamento contínuo no Rio.

- É o que chamamos de efeito formiga - conta Márcia. - São pequenas regiões de desflorestamento que muitas vezes não aparecem nas imagens de satélite.

O estudo indica que, além de Santa Catarina, Minas Gerais (com 41,3 mil hectares desmatados) e Bahia (com 36 mil hectares) foram os estados que apresentaram os maiores índices de desmatamento no período analisado.

- Nesses estados, a taxa de desmatamento é contínua e anual. Isso mostra que onde ainda existe floresta, existe o desmatamento.

Refúgio nas montanhas

A diretora da SOS Fundação Mata Atlântica lembra que esse mapeamento, que é feito desde 1990, revela um fato que pode ser considerado surpreendente.

- Durante muito tempo, todos acreditavam que a devastação da Mata Atlântica fosse um processo do passado do país, que vai desde a exploração do pau-brasil aos ciclos do café e da cana - conta Márcia. - Mas quando começamos a fazer atualizações constantes do Atlas, verificamos que esse processo é contemporâneo, é atual. Isso mostra como é importante conscientizar a população e as autoridades da importância da preservação da Mata Atlântica.

A coordenadora do estudo reconhece que a redução de 69% na taxa de desmatamento desse bioma, apesar de ser uma boa notícia, precisa ter uma segunda leitura.

- De certa forma, isso significa que desmata-se pouco na Mata Atlântica porque resta pouco para ser desmatado em vários estados - diz Márcia. - Boa parte da Mata Atlântica que está preservada no Rio de Janeiro, por exemplo, está em áreas montanhosas, de relevo acidentado e, portanto, de difícil acesso.