Título: Lula: O mundo precisa entender que a Amazônia brasileira tem dono
Autor: Menezes, Maiá
Fonte: O Globo, 27/05/2008, O País, p. 4

POLÍTICA AMBIENTAL: Preservação com desenvolvimento deu tom do discurso

Presidente critica países que poluem o planeta e "ficam de olho" na região

O recado foi direto: uma semana após o jornal "The New York Times" questionar a capacidade do Brasil de gerir a Floresta Amazônica, e no dia seguinte à revelação de que um empresário sueco teria avaliado a Amazônia em US$50 bilhões, o presidente Luiz Inácio da Silva fez uma defesa veemente da soberania brasileira. Em discurso para economistas, políticos e empresários, no auditório do BNDES, no Rio, Lula foi enfático:

- O mundo precisa entender que a Amazônia brasileira tem dono, e que o dono da Amazônia é o povo brasileiro. São os índios, são os seringueiros, são os pescadores e também nós, que somos brasileiros e temos consciência de que é preciso diminuir o desmatamento, as queimadas, mas também temos consciência de que precisamos desenvolver a Amazônia - disse Lula, na abertura do XX Fórum Nacional do Instituto Nacional de Altos Estudos (Inae).

O discurso ironizou o modo como países desenvolvidos lidam com o meio ambiente:

- É muito engraçado que os países responsáveis por 70% da poluição do planeta agora ficam de olho na Amazônia da América do Sul, como se fosse apenas nossa a responsabilidade de fazer o que eles não fizeram durante todo o século passado.

População de lá quer acesso "aos bens que temos no Rio"

Para Lula, a discussão em torno da Amazônia vai dominar os debates nos próximos 20 anos:

- Precisamos desenvolver a Amazônia. Lá moram quase 25 milhões de habitantes que querem ter acesso aos bens que temos no Rio, São Paulo ou outro lugar. Por que elas têm que ficar segregadas? Esse será o debate das próximas duas décadas.

Lula afirmou que o Brasil foi dos poucos países a cumprir o protocolo de Kyoto, firmado no Japão em 1997:

- O próprio tratado de Kyoto já faliu. Foi muito bonito assinar, maravilhoso, todo mundo assinou. Agora, quem tinha que tomar medidas para cumprir o protocolo de Kyoto nem referendou. Fomos nós que referendamos. E fomos nós, com a utilização de 100% de etanol, que tiramos do ar 800 milhões de toneladas. Somos nós, com etanol e com biodiesel, que estamos oferecendo ao mundo a certeza de que é possível construir um combustível não-poluente, e que poderemos avançar na construção de um etanol de segunda, de terceira geração.

Ao fazer um prognóstico das próximas batalhas do país, Lula afirmou que a defesa dos biocombustíveis deveria ser uma bandeira nacional.

- Temos um grande embate pela frente: é o dos biocombustíveis, da energia renovável.