Título: Em defesa da CPMF, Lula critica empresários
Autor: Menezes, Maiá; Barbosa, Adauri Antunes
Fonte: O Globo, 27/05/2008, O País, p. 8

"Não vi nenhum produto reduzir de preço depois que acabou", diz presidente, ao comentar o fim da contribuição RIO e SÃO PAULO. Na semana em que a CPMF será novamente submetida ao plenário da Câmara dos Deputados, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou ontem o fim da contribuição. Ele voltou a dizer que o impacto nos cofres foi forte. E mandou um recado aos empresários, muitos deles presentes na platéia do XX Fórum Nacional - Brasil: um novo mundo nos trópicos, no BNDES, no Rio.

- Vi a guerra que foi feita para diminuir a CPMF, e tiraram do Orçamento US$40 bilhões por ano. E quem perdeu com isso foi o PAC da Saúde, que já tínhamos lançado. É engraçado e, me desculpem os companheiros, com o maior carinho, eu não vi nenhum produto reduzir de preço depois que acabou a CPMF. Me parece que não foi passado para o custo do produto o 0,38%. Parece que aumentou apenas nos ganhos daqueles que pagavam CPMF, porque muita gente ainda teima em acreditar que o Estado tem que ser fraco - disse Lula, reconhecendo o embaraço com os empresários: - Ao falar de CPMF aqui, certamente arrumei algum adversário.

Brasil, "casa bagunçada com dez filhos que brigam"

Lula disse que o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) é uma "reparação". E defendeu a si e ao governador Sérgio Cabral, presente ao encontro, de cobranças sobre o rumo de adolescentes e crianças seduzidos pelas drogas.

- Tenho consciência de que o PAC é a grande revolução na área de urbanização de favelas, e para tentar consertar... não chamo de fazer o novo, mas falo de reparação. O que estamos fazendo, atacando as favelas do Brasil, é uma reparação da irresponsabilidade administrativa que tomou conta deste país nos últimos 50 anos - disse Lula.

E completou:

- Acho fantástico cada vez que chego nesses países desenvolvidos, parece a casa de um recém-casado que voltou de lua-de-mel: está tudo no lugar. O Brasil é uma casa de um casal que já tem dez filhos, que brigam entre si, que se chutam e em que está tudo fora do lugar. O que estamos tentando é dar um rumo e despertar na cabeça de cada criança, de cada adolescente deste país... Não é uma tarefa fácil e, por favor, não debitem isso nas minhas costas, porque esse é um problema secular, e tenho apenas seis anos de governo, o Sérgio tem apenas três anos. Debitemos nas costas de todos nós, que vai ficar muito mais fácil encontrarmos uma solução definitiva para este país.

Mais tarde, num evento em Diadema (SP), voltou a criticar:

- A verdade é que nenhum empresário reduziu o custo dos produtos que vende por conta da CPMF. Se alguém souber de um produto que caiu de preço, porque os empresários reduziram preço, me avise, vai merecer um prêmio. O dado concreto é que nós apenas fomos truncados para não fazer tudo o que a gente quer fazer no país.