Título: Prisão surpreende especialistas
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Fonte: O Globo, 30/05/2008, O Globo, p. 16

Coordenador do Viva Rio diz ter ouvido denúncias contra ex-chefe de Polícia

O fato de o deputado Álvaro Lins ter sido preso em flagrante surpreendeu especialistas da área de segurança, principalmente por ele ter imunidade parlamentar. Para a socióloga Julita Lemgruber, diretora do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (Cesec), da Universidade Candido Mendes, e ex-ouvidora da Polícia, a prisão do ex-chefe da Polícia Civil é um sinal de que as coisas começam a mudar.

- A prisão do deputado tem duas linhas de análise. Primeiro, porque surpreende, se for verdade, que um esquema criminoso como esse possa ter perdurado por seis anos dentro do governo do estado. A segunda é o fato de a polícia ter encontrado uma forma legal de mostrar à sociedade que mesmo a pessoa com imunidade parlamentar pode ser chamada a prestar contas de seus atos - disse Julita.

Em uma viagem a trabalho no Haiti, onde desenvolve um programa numa comunidade, o coordenador do movimento Viva Rio, Rubem César Fernandes, recebeu com surpresa a notícia da prisão de Lins e a denúncia contra o ex-governador Anthony Garotinho por formação de quadrilha armada.

Inspiração para personagem de "Tropa de elite"

Rubem César, no entanto, lembrou que, atuando em comunidades carentes, durante a gestão de Lins na Polícia Civil ouviu vários relatos de casos de corrupção.

- Eu não acreditava nas denúncias. Mas isso me faz lembrar a segunda parte do livro "Tropa de elite", onde há um chefe de Polícia envolvido em corrupção, que claramente é inspirado em Álvaro Lins - disse Rubem Cesar. - A justiça tarda, mas não falha

Há também aqueles que acham que a prisão foi precipitada. O presidente da Associação dos Delegados da Polícia Civil (Adepol), Wladimir Reale, acredita que os acusados deveriam responder ao processo em liberdade e, caso fossem considerados culpados, só então ir para a prisão.

- Não conheço o teor da denúncia e nem sei como a juíza fundamentou a decretação da prisão, mas acho que, tecnicamente falando, não cabe a prisão neste momento - disse Reale. - Faz-se um estardalhaço com a prisão, mas dois dias depois as pessoas estão soltas por falta de fundamentos.