Título: Desembargadora e deputada na mira do MP
Autor:
Fonte: O Globo, 30/05/2008, O Globo, p. 16
O CRIME NO PODER: Transcrições de grampos telefônicos serão encaminhadas ao Superior Tribunal de Justiça
Procurador da República investiga envolvimento de Mônica Di Piero e Marina Maggessi no bando de Álvaro Lins
Os procuradores do Rio encaminharam denúncias sobre o envolvimento da desembargadora Mônica Di Piero e da deputada federal Marina Maggessi (PPS) com a quadrilha do ex-chefe de Polícia Civil Álvaro Lins, para a apreciação do procurador-geral da República Antonio Fernando Barros e Silva de Souza. Como as duas têm foro privilegiado, caso sejam denunciadas, elas serão julgadas pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ). Entre as provas encaminhadas estão transcrições de grampos telefônicos em que, a então procuradora Mônica, em 2006, dá informações privilegiadas ao ex-chefe de Polícia Civil sobre inquéritos envolvendo seu grupo.
Procuradora seria o braço da quadrilha no MP
De acordo com o processo que investiga a participação de Mônica no caso, há indícios de que ela era o braço da quadrilha de Lins na Coordenadoria de Segurança e Inteligência do Ministério Público do Rio, que ficava sob a responsabilidade da procuradora. Os grampos revelam ainda as combinações entre Lins e Mônica sobre a promoção dela a desembargadora, nomeada pela então governadora Rosinha Matheus, em 2006.
Numa das conversas entre eles, fica claro para a Polícia Federal a intenção de Lins em dar "uma trava" no delegado-adjunto da Divisão Anti-Seqüestro (DAS) Alexandre Neto, responsável pela entrega de um dossiê à Polícia Federal, com denúncias contra o ex-chefe de Polícia. Neto sofreu um atentado, em setembro do ano passado, na Rua Constante Ramos, em Copacabana.
Nas conversas gravadas em 26 de novembro pela Polícia Federal, a então procuradora fala sobre as denúncias feitas por Alexandre Neto, que também teria incluído o nome no grupo de aliados de Lins: "Agora vê se pode; até eu entrei no rolo do Alexandre Neto", completa ela, rindo.
Em outro diálogo, a procuradora xinga Neto, classificado como integrante do exército do mal: "Idiota, palhaço, mas não deixa essa gente do mal nos atingir, viu".
Álvaro Lins, então, rebate em tom ameaçador: "É (...) daqui a pouco vou começar minha contra-ofensiva. Tô esperando aí passar essa fase de diplomação, essas coisas todas, aí vou começar".
Quando seu nome apareceu nas investigações da Polícia Federal, no ano passado, durante a Operação Gladiador, Mônica não quis comentar as gravações telefônicas.
Outra prova de que Neto estaria incomodando o grupo são os grampos nos quais a deputada Marina Maggessi aparece conversando com o inspetor Hélio Machado da Conceição, o Helinho (preso na operação). Ela sugere ao inspetor que "dê um monte de tiros nos cornos dele (Alexandre Neto)". Na época, Marina se defendeu alegando que a sugestão foi apenas força de expressão.
Em outra interceptação encaminhada ao Procurador Geral da República, gravada dias antes, em 15 de outubro, os dois inspetores falam sobre a viagem da mulher de Helinho ao Amapá. Em tom de brincadeira, Marina pergunta ao policial se a mulher também está trabalhando no ramo de mineração: "Os dois são mineiros, é isso?". A expressão "mineira" é usada entre policiais para se referir a extorsão.
Delegado suspeita de ligação de Álvaro em atentado
Para o delegado Alexandre Neto, o fato de ter incomodado o ex-chefe de Polícia Civil faz com que ele levante a hipótese de que deputado possa ter tramado o seu atentado.
- Ele (Álvaro Lins) alega que eu fiz um dossiê e seria o responsável por sua prisão. Nesse caso, ele deixa transparecer que eu o incomodei. Um delegado de segunda contra o deputado. Partindo dessa premissa, vislumbro que ele é suspeito de ter arquitetado o atentado que sofri - acusa Neto. Neto lembra que o principal suspeito de tentativa de homicídio contra ele é um policial militar que mora em Bangu, onde Lins viveu antes de ser chefe de Polícia Civil.