Título: Em um mês com chancela da S&P...
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Fonte: O Globo, 30/05/2008, O globo, p. 28

...país teve recordes tanto na Bolsa quanto no déficit externo

Desde que o Brasil ganhou seu primeiro grau de investimento, em 30 de abril último, o país viveu bons e maus momentos. Impulsionada pela chancela da Standard and Poor"s e pela escalada dos preços do petróleo - que bateu em US$135 este mês -, a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) quebrou dez recordes apenas em maio. E o volume dos papéis de empresas brasileiras negociados no pregão de Nova York alcançou a marca histórica de US$4 bilhões por dia, superando as transações na própria Bovespa. Mas se tornar um país mais seguro para investir não impediu que antigas preocupações, como inflação e déficit nas contas externas, voltassem à tona.

Os dez recordes da Bovespa foram os únicos do ano. No último, em 20 de maio, o pregão encerrou com 73.156 pontos. Antes do anúncio da S&P, a maior pontuação havia sido de 65.790 pontos, registrados em 6 de dezembro. O volume de arrecadação do governo também entrou para a lista de recordes e fez o superávit nominal seguir o mesmo caminho. Entre janeiro e abril de 2008, o setor público arrecadou mais e apurou superávit de R$61,7 bilhões. Pagou juros da dívida e ainda sobraram R$6,9 bilhões.

Mas, desde o grau de investimento, também não faltaram más notícias. No primeiro quadrimestre do ano, o país apresentou déficit em conta corrente - transações realizadas com o resto do mundo - de US$14 bilhões, o maior da série histórica, iniciada em 1947. A inflação também preocupa. Na primeira prévia de maio, o IPCA (índice oficial) acumulou alta de 5,25% em 12 meses, acima da meta de 4,5% para o ano. E o IGP-M, que avalia os preços no atacado, subiu de 9,71% em abril para 11,53% em maio, considerando os últimos 12 meses. A maior pressão ainda vem dos alimentos.

Diante desse quadro, o governo alterou o modelo do fundo soberano anunciado este mês. Em vez de ser usado para comprar dólares e financiar empresas brasileiras no exterior, será um instrumento para elevar a meta de superávit primário, hoje de 3,8% do PIB.