Título: Uma questão de segurança de Estado
Autor: Batista, Henrique Gomes
Fonte: O Globo, 30/05/2008, O globo, p. 29
Lula critica mistério sobre crise nos EUA
Chico de Gois
SAN SALVADOR, El Salvador. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem, diante de empresários brasileiros e da América Central, que a crise nos Estados Unidos é quase uma "questão de segurança de Estado", em alusão à aura de mistério que cerca os desdobramentos do abalo americano. Essa falta de transparência, defendeu Lula, faz com que não se saiba hoje a extensão dos efeitos da crise.
- Tem uma crise econômica espraiada pelas economias mais fortes do mundo. A crise americana é quase que um segredo de Estado. Sabemos pouco, até onde ela vai chegar - disse.
Segundo Lula, se o problema tivesse ocorrido na América Latina, o Fundo Monetário Internacional (FMI) já teria desembarcado nos países para tentar reestruturar a economia:
- Se fosse aqui em El Salvador, no Brasil, no Panamá ou na Guatemala, se tivéssemos uma crise imobiliária como temos nos EUA, com um reflexo profundo nos bancos europeus, certamente o FMI já estaria aqui com 30 delegações, tentando ajudar, consertar nossas economias. Com relação à crise do subprime, ninguém fala nada. E nós não sabemos dos efeitos que essa crise pode ter.
Lula insistiu ainda no discurso de fortalecimento da união entre os países da América Latina:
- Neste mundo globalizado, ou nós procuramos consolidar outras parcerias entre nós, novos nichos de mercado entre nós, novas parcerias empresariais entre nós, ou corremos o risco de fazer com que essa crise resulte em prejuízo para quem não teve coragem de procurar novas parcerias nestes últimos anos.
O presidente conclamou os países da América Central a aderirem ao Mercosul e disse não entender por que isso ainda não aconteceu:
- Sinceramente, não consigo compreender como os países da região podem negociar com os países mais ricos do mundo e, ao mesmo tempo, temer a competição das indústrias do Mercosul. Até porque, como temos feito em outras ocasiões, nunca deixamos de reconhecer a necessidade de tratamento diferenciado para os mais fracos e vulneráveis.
O Brasil tem interesse em utilizar os países da América Central como pólo exportador para os EUA, sobretudo de álcool desidratado. O Brasil envia álcool hidratado para El Salvador, que o desidrata e manda para os EUA com tarifa zero.
O presidente de El Salvador, Elias Saca, destacou a vantagem geográfica de seu país para empresários brasileiros. El Salvador pretende adicionar 10% de etanol à gasolina, mas depende do sinal verde da Assembléia Nacional.