Título: BNDES: escutas mostram que Paulinho foi avisado da operação
Autor: Farah, Tatiana
Fonte: O Globo, 31/05/2008, O País, p. 4

Coronel preso pela Polícia Federal chamava deputado de "chefe maior"

SÃO PAULO. Escutas telefônicas feitas pela Polícia Federal com autorização judicial confirmam que o deputado Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força Sindical (PDT-SP), foi avisado por telefone por um dos acusados de integrar o suposto esquema de facilitação de empréstimos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) de que estava em curso a Operação Santa Teresa. O coronel reformado da Polícia Militar Wilson Consani Junior ligou três vezes para Paulinho, na noite de 23 abril, horas antes das prisões e dos mandados de busca e apreensão judiciais que culminaram com o processo que corre na Justiça Federal de São Paulo contra 13 pessoas. O caso também motivou a abertura de inquérito contra o deputado no Supremo Tribunal Federal.

- Só pra te dizer: você lembra aquele pessoal que nós tivemos lá no escritório? - diz Consani.

- Lembro.

- De lá, de dentro, é absolutamente positivo. Só não tenho certeza ainda se esse troço de amanhã, às seis horas da manhã, vai realmente acontecer. Mas que tem e que está andando é 100% - confirma o coronel.

- Tá.

Para a PF, a conversa é uma prova de que Consani teve uma informação privilegiada sobre a deflagração da operação policial. Foi aberto um inquérito para apurar o vazamento. Mas, segundo Paulinho, o telefone não se tratava de vazamento. Ele e Consani, segundo o deputado, teriam conversado sobre uma outra operação.

"Tô com a Polícia Federal aqui em casa"

Na manhã seguinte, às 08h03m, é a vez de Paulinho ligar para Consani. Foi no momento em que o policial reformado estava sendo preso em casa. Com tom de surpresa, o deputado fez perguntas sobre o que estava acontecendo.

- Tô aqui em casa, tô com a Polícia Federal aqui em casa- conta Consani.

- Ah é, também? Por que, hein?- questiona Paulinho.

- No mandado de busca, sei lá, é alguma coisa de ligação com o BNDES, essas coisas assim... Estão com prisão decretada contra mim.

- Caramba! - diz o parlamentar.

Consani prossegue contando o que está ocorrendo com ele, fala dos documentos apreendidos e diz que está sendo levado para a Polícia Federal, em São Paulo.

Um dia depois, quando Consani já estava preso, a mulher do coronel consegue falar com ele por telefone, e conta, aos prantos, que os advogados da Força Sindical estão tentando ajudá-lo. Pede para ele aceitar a ajuda e fala sobre Paulinho:

- O Paulinho Pereira me ligou e falou que todo mundo que foi preso, ninguém tá preocupado. Todo mundo tá preocupado com você.

Em seu depoimento à Polícia Federal, segundo o inquérito entregue à Justiça, Consani disse que Paulinho era a pessoa a quem ele chama de "chefe maior" nos telefonemas interceptados pela PF com autorização judicial. Paulinho nega ter qualquer envolvimento com o esquema.

Mobilização da Força contra as prisões

No dia 27 de abril, o advogado Ricardo Tosto ligou para Paulinho. Ele fora preso pela PF e tinha sido libertado por um habeas corpus. Tosto, que era do Conselho de Administração do BNDES, sugeriu uma mobilização da Força Sindical contra as prisões.

- Desce o cacete aí... A Força, tudo... Vai. Eu vou fazer uma carta pedindo o afastamento do BNDES para que apurem melhor tudo. E pedindo a investigação no BNDES.

- Não, eu acho que você não devia pedir, não. Não sai não, cara - diz Paulinho.

- Não. Não vou renunciar, vou pedir afastamento temporário para facilitar a investigação.

- Mas aí você tem que mandar lá para a Força porque nós não vamos concordar que você saia, não - insiste Paulinho.

Mais adiante, Tosto fala:

- E tem que fazer desagravo aí. (...) Quanto mais desagravo da sociedade civil, melhor.

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