Título: Guinada na inflação
Autor: Simão, Edna
Fonte: Correio Braziliense, 09/05/2009, Economia, p. 18

Aumento na tributação e no preço dos cigarros foi principal fator de elevação do IPCA em abril, que fechou em 0,48%, ante 0,20% em março. Medicamentos e despesas com saúde também encareceram

Elevação nos preços da energia elétrica ajuda a inflar o IPCA A decisão do governo federal de elevar a tributação do cigarro para compensar a queda de imposto de produtos da linha branca, associada ao aumento do salário mínimo e dos preços da energia elétrica, gás de cozinha e remédios, fez com que a inflação no país mais que dobrasse de março para abril. Divulgado ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) atingiu 0,48% em abril, o que representa um acréscimo de 0,28 ponto percentual em relação a março (0,20%). Descontando apenas o peso do cigarro, a inflação teria sido de 0,35%. O IPCA é o parâmetro oficial da meta de 4,5% de inflação.

A forte alta do IPCA não chega a tirar o sono do Banco Central e de analistas de mercado. As pressões são vistas como temporárias. Portanto, a expectativa é de que neste mês ocorra uma ligeira desaceleração do índice, que deve fechar por volta de 0,40%. Mas o IPCA continuará impactado pela alta do preço da energia elétrica, remédios e cigarros. ¿A inflação está pressionada por fatores mais pontuais¿, disse o economista da corretora Concórdia, Elson Teles.

Além disso, no acumulado em 12 meses encerrados em abril, o IPCA foi de 5,53% ¿ inferior ao 12 meses imediatamente anteriores (5,61%) ¿, dentro da meta de 4,5% (considerando a folga de dois pontos percentuais). ¿A preocupação com a inflação é menor, mas não dá para tirar o olho¿, complementou Teles. A gerente de pesquisa do IBGE, Irene Maria Machado, destacou que o grupo de despesas pessoais registrou a maior variação (2,14%), puxado pela alta de 14,71% nos preços dos cigarros. Essa expansão refletiu parte do reajuste de 16 de março, aliado aos aumentos decorrentes da maior alíquota do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) e do PIS/Cofins, que passaram a valer a partir de 10 de abril.

Outro motivo de pressão no grupo foi o item de serviços pessoais, com ampliação de 1,55%, reflexo de alta de salário do empregado doméstico (1,83%), cabeleireiro (1,59%), manicure (1,44%) e costureira (1,16%). ¿O aumento do empregado doméstico está ligado ao salário mínimo, que também influencia na alta do preço de outros serviços pessoais¿, contou Irene Maria. Para a economista-chefe do Banco ING, Zeina Latif, ainda há vários serviços ¿ empregado doméstico, cabeleireiro, por exemplo ¿ que são sensíveis à indexação, ou seja, com o aumento do salário mínimo realizam reajuste dos preços. Ela frisou que há uma resistência dos preços dos serviços, que em 12 meses já subiram 7,2%. ¿É uma variação muito grande¿, afirmou. A previsão de Zeina é de que o IPCA encerre o ano em 4,5% ¿ o centro da meta. Essa estimativa considera estabilidade no valor do litro da gasolina.

Medicamentos A segunda maior contribuição para o IPCA veio da despesa com saúde e cuidados pessoais, que saltou 1,10%, refletindo o reajuste de 5,90% dos remédios. No grupo de habitação, a inflação passou de 0,25% em março para 0,75% em abril. A justificativa foi o aumento do gás de cozinha (2,41%) em algumas cidades brasileiras e da energia elétrica (0,87%).