Título: Vírus circula no Brasil
Autor: Vitória, Maria
Fonte: Correio Braziliense, 09/05/2009, Mundo, p. 28

Rapaz de 28 anos contrai a doença em contato com amigo no Rio de Janeiro. Lula diz que o país continua ¿vigilante¿

O ministro da Saúde, José Gomes Temporão, visita o centro de emergência montado no Rio para combater a influenza A: ¿padrão internacional¿ São pelo menos seis os brasileiros que tiveram ou têm a gripe A (H1N1), chamada de gripe suína. Os dois novos casos foram anunciados ontem à noite pelo ministro da Saúde, José Gomes Temporão. Um dos casos é de Santa Catarina, uma menina de sete anos que já teve alta do hospital. A criança passou férias na Flórida (Estados Unidos). O outro novo caso é de um homem que teve contato com o paciente já confirmado como infectado pela gripe no Rio de Janeiro. Ou seja: é o primeiro caso de transmissão do vírus dentro do país. Os dois cariocas eram até ontem os únicos internados no Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, na Ilha do Fundão.

O ministro da Saúde explicou que o primeiro contagiado pelo vírus no Brasil tem 29 anos e manteve contato com o paciente no último dia 3. Ele apresentava os sintomas desde a última terça-feira e no dia seguinte foi internado no Hospital do Fundão. De acordo com Temporão, ele tem febre, mas seu quadro é estável. ¿Com o registro desse caso, fica caracterizado que houve uma transmissão do vírus aqui no país. É uma transmissão limitada, ou seja, até o momento é o único caso de transmissão de pessoa para pessoa no Brasil, sem ter havido transmissão para terceiros¿, afirmou Temporão.

Os quatro primeiros casos da gripe no país haviam sido divulgados pelo ministério na quinta-feira. São dois pacientes de São Paulo, um de Minas e um do Rio, todos contagiados no exterior, e três já estão curados. ¿Nossa estratégia para conter o vírus segue de maneira ágil e eficaz¿, disse o ministro ao anunciar os dois novos casos confirmados. Temporão ainda afirmou que o governo vem tomando todas as medidas necessárias. ¿Nada muda. Todos os países estão fazendo do mesmo jeito, seguimos os protocolos internacionais¿, garantiu.

Antes de confirmar a doença na menina catarinense e no rapaz do Rio, o Ministério da Saúde divulgou no início da tarde um balanço que totalizava 30 casos suspeitos no país, em 10 estados, além de 18 casos em monitoramento. No total, 113 suspeitas já foram descartadas. O país dispõe de 52 hospitais de referência para atender novos casos de gripe suína. Há estoques de medicamentos prontos para tratar 12,5 mil pessoas e 9 milhões de doses em pó para futura fabricação.

As autoridades encaram com tranquilidade a possibilidade de epidemia da Influenza A. Falando à imprensa em Brasília, o presidente Lula afirmou que a doença não atingirá a economia, mas garantiu que o país continuará ¿vigilante¿. Temporão, por sua vez, declarou que é ¿até meio ridículo¿ usar máscara de proteção. Ele fez essa crítica ao condenar a discriminação enfrentada pela família do primeiro rapaz que teve a doença confirmada no Rio. De acordo com o ministro, a informação sobre a identidade do paciente vazou, provocando reações negativas na Ilha do Governador, onde ele mora.

Tranquilidade O médico brasileiro Jarbas Barbosa, gerente da Área de Vigilância em Saúde e Gestão de Doenças da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), em Washington, também adota um tom de cautela em relação ao contágio da gripe suína no país. O médico explica que, ainda que o Brasil venha a registrar casos contraídos em território nacional, isso não será, necessariamente, sinônimo de surto epidêmico. ¿Consideramos que existe transmissão sustentada da doença quando há pessoas infectadas na comunidade e já não é possível identificar a origem do contágio¿, disse Barbosa ao site UOL.

Segundo o médico, apenas se houver transmissão sustentada em algum país fora do continente americano a Organização Mundial de Saúde (OMS) passará a reconhecer uma pandemia. ¿Mas é preciso lembrar que o termo `pandemia¿ refere-se apenas à expansão geográfica de uma enfermidade, não ao perigo que ela representa à saúde¿, reforça o médico brasileiro.