Título: Entre aplausos recebidos, até os de líder arrozeiro
Autor: Éboli, Evandro
Fonte: O Globo, 01/06/2008, O País, p. 10

"Ele é uma luz no fim do túnel", diz prefeito já preso 2 vezes pela PF

BRASÍLIA. O ministro Mangabeira Unger consegue arrancar aplausos até do líder arrozeiro de Roraima, Paulo César Quartiero, prefeito de Pacaraima (RR).

- Esse ministro é uma luz no fim do túnel. Chega de Marina Silva, que atrasou o país em 50 anos com esse preservacionismo irracional. Vai tarde. Muito tarde - diz Quartiero, que tem comandado atos contra a demarcação e já foi preso duas vezes pela Polícia Federal.

Num debate no Congresso, semana passada, o ministro foi elogiado publicamente por parlamentares oposicionistas. O governador de Roraima, José de Anchieta Júnior (PSDB), também saiu em sua defesa:

- Parabenizo o ministro por sua maneira clara, didática e convincente. O governo federal teve a lucidez de entregar a ele o Plano Amazônia Sustentável (PAS). Parabéns, ministro.

A ex-presidente da Comissão da Amazônia Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) também aprovou a decisão do presidente Lula de deixar o PAS com Mangabeira:

- No Ministério do Meio Ambiente, o programa estava engavetado. O PAS não pode ser letra morta. É melhor a polêmica do que debate nenhum. E está muito bem entregue.

Presente ao plenário, o deputado petista Nilson Mourão (PT-AC) registrou a aprovação de Mangabeira pela oposição e fez uma provocação:

- O senhor é o primeiro ministro dos dois mandatos do Lula que conseguiu o apoio geral da oposição. Até do governador, que pensa o contrário do governo na questão de Raposa Serra do Sol.

Irritação, só com críticas jocosas ao sotaque

Mas Mangabeira evita emitir juízo sobre o problema da demarcação da reserva, e deixa entender ser contrário ao decreto do presidente, que homologou a Raposa Serra do Sol de forma contínua. Obedece às ordens do presidente e prefere não se posicionar claramente.

Ele só se incomoda com os comentários jocosos feitos a seu sotaque, um português "americanizado". Nasceu no Rio, mas passou a infância nos EUA, onde chegou a lecionar em Harvard. Nas suas próprias palavras, "está cada vez menos paciente com essas brincadeiras". Quando tem que falar sobre o assunto, chega a se emocionar e quase chora, como ocorreu no encontro com o GLOBO, semana passada:

- Acho inaceitável que numa democracia feita de gente de todo o mundo se singularize o sotaque. Isso não ocorre no povo, na população trabalhadora. O povo brasileiro está acima disso, e não se preocupa com meu jeito de pronunciar as vogais e as consoantes.