Título: Disputas por terra acirram conflitos indígenas
Autor: Aggege, Soraya
Fonte: O Globo, 01/06/2008, O País, p. 11
Expansão de fronteiras agrícolas e ausência do governo em áreas estratégicas ajudam a espalhar confrontos
SÃO PAULO. Ataques com facões, seqüestros, ocupações de órgãos públicos. Desde o início da crise na Reserva Raposa Serra do Sol, em Roraima, pelo menos 40 conflitos indígenas já pipocaram por vários estados, inclusive fora da Amazônia Legal. A tendência é o acirramento crescer, avaliam organizações indígenas e a própria Fundação Nacional do Índio (Funai). O motivo principal é a expansão das fronteiras agrícolas e o questionamento de direitos conquistados pelas minorias na Constituição, além da ausência do governo em áreas estratégicas, afirmam.
Por outro lado, a alegação é que o país teria terras demais para reservas e que ONGs estrangeiras estariam ameaçando a soberania nacional. Em meio ao acirramento, ganha corpo uma troca de acusações entre ONGs ambientalistas, políticos, militares, fazendeiros e até grupos tachados de ultradireita.
- Estamos numa mobilização indígena histórica. Só tivemos movimentos assim na década de 70, na ditadura e na Constituinte (88). Estamos sob muita pressão por causa do avanço das fronteiras agrícolas, madeireiras e mineradoras. Se o Supremo liberar Raposa para o agronegócio, nossas terras serão questionadas. Querem tirar o que conquistamos em 1988 - afirma o coordenador-geral da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), Jecinaldo Sateré Maué, ou Gãp Wasay para os indígenas.
- Há uma articulação para tirar nossos direitos e nossas terras, por isso temos reagido. Quem não pode com a formiga que não assanhe o formigueiro - diz Manoel Uilton Santos, ou Uilton Tuxá, coordenador da Articulação dos Povos Indígenas do Nordeste, de Minas Gerais e do Espírito Santo.
Cerca de 200 projetos de lei tramitam no Congresso para mudar direitos indígenas. Irritam os indígenas as obras públicas de impacto próximas a reservas como a do Xingu, a precariedade dos serviços de saúde oferecidos pela Funasa, a lentidão da Funai e, ainda, um total de 17 assassinatos de indígenas somente este ano, principalmente em áreas de conflito.